segunda-feira, 8 de abril de 2013

PAIS CANGURU

É possível confeccionar o seu







Há alguns anos morriam quase todos os prematuros numa cidade da Colômbia que não tinha incubadoras equipadas. Aí, o diretor do hospital teve uma ideia genial - criar uma incubadora prática, eficaz e gratuita: o próprio corpo da mãe, permitindo o contato pele a pele entre a mãe e o recém-nascido.
Assim, o bebê mantém sua temperatura (não perde calor) e fica perto de sua fonte de alimentação - a mama materna. Esse método lembra o que garante a vida do filhote do canguru que logo ao nascer sobe pelo corpo da mãe e entra dentro de uma bolsa que o aquece e contém as mamas.
O resultado foi uma surpresa maravilhosa e, por isso, foi adotado em muitos países. Nos lugares pobres, o método é usado “em vez de” a tecnologia e nos países desenvolvidos é utilizado “além de” a tecnologia para humanizar o atendimento do prematuro e permitir o estabelecimento do vínculo afetivo entre mãe e o recém nascido, além de apressar a alta hospitalar.
Como é: o prematuro fica pelado só com fraldas (se necessário, de touca na cabeça e um cobertor nas costas) e é mantido de pé, debaixo da blusa da mãe, contato pele a pele, entre as mamas (sem sutiã). Curiosamente, outros familiares e o próprio pai podem servir temporariamente de “mãe canguru”.
No Brasil, o pioneiro foi o Hospital Guilherme Álvaro,da Faculdade de Medicina de Santos.



Texto elaborado pelo Prof. Dr. Jayme Murahovschi, em um projeto que desenvolemos conjuntamente (1999 - 2001)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

FELIZES PARA SEMPRE


No mundo dos contos de fadas, nas estórias destinadas à infância, observamos que temas relacionados tanto à violência como ao erotismo são frequêntes, porém atenuados, suavizados e, por fim, compensados com um final feliz. Pode-se dizer que esta preferência pelas versões modificadas contendo estas características é o que prevalece hoje em dia como oferta literária e de entretenimento para nossos pequenos.
Isto pode ser analisado tanto pela ótica dos pais, da criança como da sociedade.
As mudanças no conteúdo das estórias infantis em certa medida respondem a questões narcisistas parentais, pois os pais querem não só sinalizar, como tentam garantir os votos de um bom futuro para os filhos. Estes votos são legítimos e genuínos, possivelmente o melhor que lhes reservou a realidade.
Devemos, apenas, ter cuidado para não sermos ingênuos em dois aspectos: ao tentar mostrar um lado ideal, onde qualquer conflito termine bem, que destino uma criança pode dar ao que realmente não vai bem. Como ela se sente sabendo que sua sorte não foi exatamente a prometida? Será que nos excessivos votos de um final feliz, também contém fantasias e temores “nada felizes” das vivências, dos fracassos e frustrações da realidade?
Neste sentido, o final feliz pode trazer embutido a negação que não podemos negligenciar: nem sempre a criança vive um mundo de sucessos e isto pode ser um motivo de grande angústia quando comparado às fabulas de finais felizes. Os pais e educadores devem ficar atentos a este aspecto para poder falar abertamente do conflito produzido.

Na medida em que a sociedade confere à criança um lugar próprio, é possível também conhecer suas especificidades e saber que seus recursos de elaboração são distintos dos adultos. Uma boa parte da  modificação dos tradicionais contos infantis se deve a isto.
Devemos nos perguntar, então, o que uma criança compreende do que lhe é falado, pois expor demais a mesma a conteúdos que ela não pode suportar pode ser traumático. Com frequência, a criança pega uma "carona" nas histórias contadas para elaborar as próprias questões, o que está difícil de compreender ou "digerir".
Saber dosar informações pode ser uma medida de proteção, pois muitas vezes uma criança pode viver uma informação como excessiva, negativa e pesada ou terrífica. Mas isto também não significa deixá-la em uma redoma sem expô-la a nada. Isto também seria uma falsa ideia do que é bom para a infância.
Se observarmos a brincadeira infantil veremos que ela repete justamente o que há de mais desagradável para si. Esta curiosa repetição é a forma que a criança tem de dominar suas vivências desagradáveis, quando este domínio é bem sucedido gera prazer. Por isto, os nossos pequenos gostam tanto de repetir brincadeiras e histórias.



Texto desenvolvido a partir do Trabalho de Aproveitamento de Curso, realizado por Marina Giovedi Arnoldi "Por que eles foram felizes para sempre?", Colegio Oswald de Andrade, São Paulo, 2011 do qual participei da banca examinadora.

sábado, 15 de dezembro de 2012

O SUJEITO NÃO É SEU DIAGNÓSTICO.


Vamos refletir sobre isto?

Com uma espectro cada vez mais sofisticado e segmentado de diagnósticos, crianças passam a ser vistas apenas como um rótulo, sem história ou subjetividade. Isto também gera a falsa ideia de que a solução para o rotulo é única. Ou seja, um único tratamento, só com um tipo eficaz de intervenção.


domingo, 2 de dezembro de 2012

CLÍNICA COM CRIANÇAS: ENLACES E DESENLACES








Reinventar a psicanálise diante de cada caso é uma prática constante da clínica com crianças. Estamos diante de um campo cuja diversidade de realidades e envolvimento com família, escola e instituições requer uso flexível e criativo dos dispositivos clínicos.


Reunimos aqui diversas experiências que discutem a clínica da primeira infância, sua peculiar dinâmica institucional, atendimento multiprofissional na intervenção precoce, inclusão em creche, início do tratamento e a especificidade da escuta da família no atendimento infantil

Apresentamos também textos sobre o final do tratamento, transtornos psicóticos, transtornos globais do desenvolvimento e o acompanhamento terapêutico com crianças para ilustrar as vicissitudes desta clínica.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O LUGAR DO ACASO EM NOSSAS VIDAS



Estamos habituados a pensar que tudo em nossas vidas tem uma causa, um motivo. Pouco damos espaço para pensar que coisas também são frutos do acaso.
Para complicar um pouco, temos hoje em dia, uma ideia bastante difundida, e também correta sobre tudo ter um motivo inconsciente.
 Sim, é verdade! Há sempre uma motivação inconsciente em nossos atos! Então como conciliar o acaso e a causa das coisas?
Proponho uma reflexão da maneira que encaramos ambas. Motivação inconsciente não deve ser compreendida como uma simples relação causa-efeito? A crença na relação de causa linear,  creio, é influenciada pela fantasia inconsciente somada à nossa cultura científica.
A fantasia inconsciente é sempre um recobrimento de uma ferida narcísica, obrigatória na vivência de todos, sobre o dilema de ser ou não ser tudo para mamãe; ou mesmo ter ou não o objeto do desejo dela. A explicação é sempre um recobrimento desta ferida, mas nem sempre se traduz sob a lógica da causa/conseqüência. Mas estas construções terão seus efeitos nas nossas escolhas, sejam conscientes ou inconscientes.
Então nos vemos diante de outra importante questão, principalmente em um análise: Representar é explicar? Ou, quando falamos em inconsciente, estamos diante de uma trama de leis distintas?
Somos seres históricos, diferindo das demais espécies. Será isto, justamente, o que nos torna seres temporais e capazes de nos portar de forma única, pessoal e constituir, paralelamente, uma trama psíquica e uma narrativa sobre nossas vivências, que traçará um jeito próprio de encarar o mundo.
A construção dramática de nossas vivências não deve ser entendida como fonte única de todo sofrimento ou mesmo de uma patologia, embora muitas vezes possam ter sua influência. Mito individual e história pessoal, sem dúvida, estão vinculados ao fantasma que pode estar fortemente aprisionado às nossas questões ou sofrimentos, mas não necessariamente explicam a causa de tudo, como, por exemplo, algumas doenças.
Devemos ter cuidado redobrado para que “o conceito de causa não seja a priori da compreensão”.  A demonstração da causa é sempre experimental e pressupõe uma determinação imutável das coisas, portanto, pressupõe que seja sem história e asseguradora. Ao se falar demasiadamente em causas, estamos indo na contramão dos caminhos da pulsão, que são para a psicanálise, a verdadeira força da vida mental e da história individual.
A construção histórica difere de buscar as causas, pois o inconsciente funciona sob outra lógica – o acaso. Trata-se da casualidade do encontro entre as sensações e seus representantes, o encontro entre o inconsciente parental e o do filho, o encontro mãe/bebê e o encontro singular de cada destino. O acaso do encontro é também a causalidade inconsciente, causa nada linear que implica em uma pluralidade de fatores e respostas possíveis, das quais a reconstrução difere muito da reconstituição dos fatos. Não se deve confundir a reconstrução simbólica com a restituição dos fatos. Ao se construir simbolicamente uma história, abrimos espaço para mais liberdade de escolha, e não a versão verídica da realidade acontecida. Evidentemente, esse saber não é objetivo, pois cada um tem a sua verdade, e a sua versão dos fatos que por mais que seja objetivamente compartilhado, nunca é vivido da mesma forma por duas ou mais pessoas. Cada um conta a sua verdade da história.

domingo, 14 de outubro de 2012

COMO É DIFÍCIL LIDAR COM ESTA INVEJA!!!!


É comum  nos deparamos mordidos com o sentimento de inveja, ou nos sentimos injustiçados. Isto parece convocar o pior de cada um de nós.
Como entender ou lidar com isto?
Estes sentimentos que geralmente identificamos como negativos estão ligados a vivências das mais primitivas da nossa estrutura psíquica. Por mais que pareça justamente o contrário, são base do sentimento social, denominados sentimentos gregários – se constroem a partir do desejo compartilhado pelos membros de um grupo que haja justiça, ou seja, um tratamento igual para todos.
Para compreendermos como a mudança deste afeto acontece, vamos falar um pouco das nossas primeiras relações, pois estes sentimentos sociais não são inatos, mas construídos progressivamente ao longo da infância. Portanto, o sentimento comunitário não é encontrado nas crianças. Este tem por origem um sentimento primitivamente hostil, a inveja, que se transforma em um desfecho positivo, a identificação.
A identificação se constituirá a partir da inveja experimentada pelas crianças, muito precocemente, ao iniciar sua convivência com outras crianças, semelhantes a ela, e se verá na condição de disputar o amor e a atenção de uma pessoa amada. A hostilidade experimentada em relação ao rival é extremamente ameaçadora, na medida em que a criança reconhece  que a expressão de sua hostilidade pode significar o afastamento do ente querido, objeto de seu amor, obtendo assim, resultado oposto à sua verdadeira intenção.  O sentimento social ganha sua força ao reivindicar toda atenção de um líder e temer a disputa dos rivais. Desta forma, rivais a princípio acabam por se identificar devido ao fato de amarem o mesmo objeto
Mas por que, então, sentimos a inveja como hostil e fulminante em nossas vísceras, uma vez que tais sentimentos parecem desembocar justamente nos ideais sociais e comunitários?
O ideal altruísta de justiça  tendenciosamente esconde algo muito mais egoísta e individualista: seu verdadeiro objetivo é se certificar de que o rival fique sem nada, exatamente como nos sentimos. A inveja não é dirigida a um outro genérico, mas sim a um outro específico, que tem coisas das quais sentimos que não temos.
O que invejamos não está ligado à nossa sobrevivência, nem é necessariamente útil. O objeto da inveja é o que irá satisfazer o outro com o qual nos comparamos e nos identificamos. Assim, o que causa inveja, não é a posse do objeto, mas a fruição de prazer que o rival obtém com este objeto. É a imagem da satisfação do outro que nos captura. O invejoso nada mais é aquele que almeja a mesma satisfação.
Esta compreensão, nos põem diante de uma situação muito desconcertante! Realmente, dá pano para manga, muitas conversas e temas que irei desenvolver em outras oportunidades.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

COMO ELE VAI SER QUANDO CRESCER?


Todos os pais ao olharem para seus filhos fazem esta pergunta. É claro que é muito difícil falar como o bebê será. Não é possível determinar ou prever a vida de cada um, mesmo que possamos perceber várias características de uma criança desde cedo. Mas algumas das experiências iniciais da primeira infância serão marcantes na constituição da personalidade.
A personalidade é um conjunto de fatores que abarca tanto aspectos congênitos, com os quais nascemos; como aspectos constituídos na relação com o outro. Ela é resultante das nossas vivências.
Quando nascemos, o nosso sistema neuromotor é extremamente imaturo e ainda não temos a competência de expressar o que vivemos, sentimos ou mesmo como pensamos. Na verdade, o pensamento é resultado de um processo que se constitui na experiência com o outro, principalmente na relação com quem exerceu os primeiros cuidados com o bebê.
Ao nascer, alguns bebês são mais ativos e outros mais passivos. Assim como há mães mais pacientes, calmas e outras mais ansiosas e impacientes. Esta interação terá bastante influência na constituição de cada um.
O recém-nascido está sujeito a uma série de sensações que se originam tanto de estímulos externos, como dos órgãos internos. Ao sentir desconforto, ele é incapaz de agir de forma a interromper esta sensação, só lhe resta chorar. Ao atendê-lo, a mãe dá respostas com o intuito de apaziguá-lo no seu desconforto. Estas respostas vão se marcando como prazerosas quando lhe aliviam o mal estar. Será a partir destas experiências que vai se constituindo sua história.
Em geral, a família cria muitos ideais para o seu filho. Ele se insere em um projeto familiar. Para ilustrar,  conto a piada da mãe que sai para passear toda orgulhosa com os seus bebês gêmeos. Encontra uma amiga que pergunta: "Quem são?" A mãe responde: "Este é médico e o outro é o engenheiro."
Vemos, então, como um bebê está inserido em um contexto de ideais familiares. É claro que estes ideais não são só de coisas positivas. Também podem consistir em um pensamento do tipo: “será mais feliz em seu casamento do que eu”; ou algum temor da história dos progenitores: “não será tão louco como a tia”.
O que procuro ilustrar, é como ao chegar em uma família, a criança vem para ocupar, ou negar um lugar de expectativas. Este lugar é marcado como um ideal para esta criança. Lugar idealizado a ser cumprido ou a ser questionado.
Podemos afirmar que a personalidade do bebê é fortemente marcada pelo vivenciado. Todos nós conhecemos o jogo de “cadê/achou” dos pequenos. Este jogo pode ser tomado por metáfora de como o jogo de identificações acontece: ao perguntar para a criança: "Cadê o Joãozinho?" A imagem que irá aparecer será a do adulto que está brincando e        que afirma para a criança ao aparecer: “Achou o Joãozinho!!!”
O processo de identidade é muito parecido com o jogo de “cadê/achou”. Na procura do objeto de satisfação, o que aparece é a imagem do outro, do ideal dado pelo outro. Esta experiência regerá o que será a personalidade do bebê. Ou seja, a personalidade será editada sobre a experiência dos primeiros anos de vida. O aparelho psíquico se organiza de forma cada vez mais complexa por toda a infância.
Há marcos importantes do desenvolvimento psíquico infantil que podem ser observados e a ausência deles pode ser um alerta para os pais:
·        O bebê olha nos olhos daquele que fala com ele desde o nascimento.
·        O sorriso diante da presença de uma pessoa é esperado do 2º ao 3º mês.
·        Após o 4º mês, o bebê chora quando a pessoa se afasta dele.
·        Ele deve balbuciar em torno do 4º ou 5º mês.
·        Reconhece sua imagem no espelho e jubila diante dela a partir do 6º mês.
·        Sabe, deliberadamente, provocar o outro para que lhe dê carinho e atenção no 7º /8º mês.
Durante o primeiro ano, o bebê vai desenvolvendo a motricidade e a fala.
Em torno dos dois anos de idade, em geral, é um momento difícil par alguns pais, pois a criança já goza da autonomia motora, faz tudo para testar os limites e provocar os pais, obrigando-os a constantemente dizer não. Isto não que dizer que o filho será terrível ou difícil, apenas está experimentando sua autonomia.
Nesta ocasião, veremos de forma incipiente como a personalidade do sujeito começa a se delinear. Como disse, é um processo que se constitui por toda a infância a partir da experiência individual e única de cada um. Vivência que será reeditada na adolescência para ai, sim, se fixar, caracterizando o estilo de cada um.