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domingo, 22 de outubro de 2017

QUEM DECIDE EM CASA? TV NOVA!

TV NOVA!!!



Arthur, 9 anos, e Paulo, 6 anos, estavam muito ansiosos pela chegada da nova TV. Eram 16 horas quando a loja entregou. Agora eles não se continham de agitação, esperando pela chegada do pai, pois mamãe declarou que “só em sua presença” a novidade seria aberta.

Naquele dia papai chegou tarde, extenuado, mas como adiar mais um dia a espera dos filhos?

Abriram a caixa, instalaram a TV, plugaram… e como fazer funcionar? Como usar os comandos do controle? Aquela hora do noite, com o dia carregado nas costas, as letrinhas minúsculas do manual em inglês ou espanhol, parecia um desafio impossível. Eis que Arthur sugeriu: “Deixa que eu consigo!!!”

O pai disse que não, melhor ele mesmo tentar. Podemos deixar para amanhã, sugeriu depois de um tempo cansado da sopa de letrinhas que via no manual. “Olha, pai, é só sintonizar aqui.”- tentou Arthur.

Opa! Conectou-se um menu. O pai, já mais flexível, entregou o controle na mão dos garotos, enquanto prosseguia a leitura das instruções.

Arthur e Paulo disputavam o controle, começaram a brigar. A mãe interveio, sugerindo que Arthur deixasse o menor olhar um pouquinho.
“Mas ele mal sabe ler”, retrucou Arthur. “Não vai conseguir”.
Neste meio tempo, Paulo já estava dentro do modo TV e escolhendo seus desenhos para assistir.

Neste novo universo digital, muitas vezes são os filhos que detêm o saber e a habilidade, fazendo com que os pais se sintam fora “do comando”.
Muito provavelmente vocês pais leitores lembram-se de seus pais serem as grandes fontes de transmissão de saber. Mas, com certeza, já se viram na estranha situação de dependerem dos filhos tanto para decifrar, como para escolher por vocês o modelo do celular ou som e TV que vão adquirir. São eles também que, com facilidade, conseguem informações e roteiros para os programas em família. Isto os coloca em uma posição de privilegio e inverte a ordem das gerações – os filhos passam a ser os instrutores dos pais.
É claro que nós pais ficamos orgulhosos com a inteligência e “esperteza” dos filhos, afinal são melhores que a gente!!! Com rapidez decifram o que para a outra geração era desafiador e enigmático.

Esta inversão que parece banal e corriqueira nos nossos tempos pode comportar uma mensagem um tanto complicada – são eles quem sabem! E como saber, muitas vezes significa poder… serão eles que podem! Eles decidem!

Sim! Nós criamos os filhos para o mundo e superar os pais, em geral, é esperado, mas na idade adulta. O controle digital desta geração, os leva a crer em uma autonomia que pouca maturidade têm para exercê-la. Acham que podem, agora, tudo sozinhos sem a tutela de pais e professores. Muitos dos conflitos e desafios vistos nas escolas e nas famílias parecem se pautar neste tipo de vivência.

Como sair desta? Afinal é verdade que no quesito digital eles realmente levam a supremacia.
Então Pais! Vamos pensar em que outros aspectos estaríamos agindo da mesma forma? Em quais situações nós poderíamos estar abrindo mão desnecessariamente de ser o tutor do filho? Devemos ter cuidado para não acreditarmos que o fato dos nossos filhos terem esta habilidade que a nossa geração nem sequer sonhou.


QUEM DECIDE EM CASA?

Pizza de Domingo







Papai decidiu comprar um pizza para o jantar. Claro! Ele já saboreava sua tradicional e adorada calabresa… faz tempo que não comia uma, pensou… Mamãe logo concordou! Aposto que já pensava na sua de abobrinha… eis que André, 4 anos, declarou: “quero pissa de queso”. Pais se entreolharam um pouco desolados:

“Bom, pedimos 1/2 de abobrinha e 1/2 mozzarella para André. Na próxima eu escolho a nossa metade, tá bom querida?”, papai vem a conciliar.
Mamãe remenda: “E a Joana?”, filha de 2 anos do casal.
“Para ela, mozzarella está bom”, papai afirma resoluto.
“Será?” Mamãe duvida.

Como você, leitor, acha que deve acabar esta história?
O que faria no lugar destes pais?

Hoje, cada vez mais, vemos os filhos serem aqueles que decidem tudo em casa. Parece que nós, pais, deixamos de dizer o que pode ou não pode, de resolver como será uma mera pizza de domingo.

A família que, tradicionalmente, deveria ser a transmissora da cultura, portanto balizadora das normas de conduta, ultimamente, vem deixando de exercer estas funções. E a educação dos nossos pequenos, cada vez mais vem sendo delegada a cuidadores profissionais ou a instituições de educação, uma vez que os pais necessitam se afastar para trabalhar por longos períodos, restando-lhes pouco tempo para se dedicarem ao convívio com os filhos.

Quando presentes, os pais não têm vontade de dar limites ou ocupar o espaço de educadores, pois sentem-se culpados devido ao seu longo período de ausência, querendo compensar os filhos como sendo muito prazeroso os poucos momentos que podem desfrutar juntos.

Infelizmente a ideia de uma boa convivência é associada a momentos sem regras ou limites. Um momento legal seria aquele em que pode tudo! Que se pode desfrutar de tudo! As crianças vêm sendo ensinadas por nós que tudo podem, e nós adultos lhes devemos um mundo de alegrias e prazeres.

Isto acontece pelo fato dos pais temerem ser considerados pelos filhos como “pais ruins” quando além da ausência, têm que impor regras e limites. Mas não esqueçam que serão justamente estas regras e limites que farão com que os filhos cresçam seguros, não vivendo qualquer frustração como uma catástrofe irreversível.

As regras e os limites, quando bem administrados, não gerarão crianças mimadas e birrentas, revindicando que o mundo gire só em torna delas. É claro que um choro sempre tem um valor de comunicação e também não pode ser só compreendido como resultado de um mal comportamento ou birra, mas não podemos perder de vista que limites e novos desafios são importantes para a conquista da autonomia e maturidade da criança. Desta forma, quando crescerem vão poder agir como adultos. Devemos nos perguntar, seriamente se não estamos transmitindo um ideal de mundo em que tudo e todos lhes devem muita alegria e satisfações, tudo é de seu direito, todos devem lhe servir.

Portanto, pais, não deixem de dar estes contornos tão necessários para o desenvolvimento dos seus filhos. Diversão e brincadeira são muito importantes! Mas não é só isto! Ser pai e mãe é dar contorno e valores que só são transmitidos através de atitudes coerentes e consistentes. Dar rotina, regras e limites é nossa função!


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

" O SILÊNCIO QUE FALA"

         O filme "Silencio que fala", dirigido por Miriam Chnaiderman, dá voz aos pais de pessoas que foram diagnosticadas com autismo. São relatos de tocantes experiências sobre pessoas que se beneficiaram do trabalho psicanalítico, colhidos em várias cidades e instituições do Brasil pelo Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP).





segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

POR QUE ATENDER PAIS E CRIANÇAS?

     





“Paulo e Vera procuram auxílio para seu filho André, hoje com 4 anos, que vem apresentando comportamento de isolamento na escola. Não quer conversar com eles sobre o que está acontecendo. Prefere brincar sozinho, solicitando pouco os adultos. Requer atenção apenas quando quer alguma coisa. Vera relata que se sente isolada. Esta sensação lhe remete à sua infância, quando seu pai retornava muito alterado para casa e agredia sua mãe e irmã mais velha. Ela mergulha nesta lembrança de ambivalência: ficou de fora da cena agressiva, mas, por outro lado, isto lhe salvou. O isolamento do filho parece cutucar esta lembrança.”



O relato acima, embora fictício, ilustra o cotidiano do acolhimento clínico que se realiza no atendimento de crianças. Acolher e receber as tramas dramáticas de uma família é o nosso ofício. Sabemos como as tragédias familiares têm o dom de se emaranhar com a história subjetiva de cada um de nós. Com a família de André, o mesmo processo acontece.
Poder falar de como um evento trágico incide no drama pessoal de cada um dos envolvidos está longe de colocar ambos como causa e consequência. Mas vemos que, em muitos casos, ao realizar este trabalho de circulação dos eventos da história familiar, as condições e relações entre os membros desta família melhoram, isto é válido também para as crianças.
É da maior importância ter claro que fatos da história não são suficientes, principalmente nos casos de maior gravidade, para afirmar a causa de uma sintomatologia na infância. Mas não devemos esquecer que somos seres históricos e estamos acostumados a pensar nesta perspectiva. Somos a única espécie que tem noção do tempo, a qual cada pessoa se comporta de forma única e é capaz de construir uma trama psíquica sobre suas vivências.
Esta construção não deve ser entendida como causa de uma doença.   Ela se inscreve nas nossas vivências, principalmente diante do sofrimento. Mas não necessariamente explica a causa de uma doença. São realidades distintas. Estamos diante de uma pluralidade de fatores aonde a reconstrução de um fato difere muito da reconstituição dos fatos. Incorrer na confusão entre a possibilidade de reconstrução simbólica de uma vivência e a restituição do factual tem suas implicações éticas.
Quando vê o isolamento de seu filho André, Vera é invadida por lembranças. Ao se trabalhar tais lembranças ela terá novos recursos para lidar com André sem se paralisar diante dos sentimentos de solidão e isolamento que sua lembrança evoca. O movimento interno de Vera pode abrir novas possibilidades para André, inclusive para que este possa realizar o seu trabalho analítico. Vejam, não estamos falando de causa de uma doença e sim do movimento plástico das tramas psíquicas.
Quando uma família nos solicita ajuda, está em dificuldades e seus membros sentem-se sozinhos. Sabemos da dor dos pais quando nos procuram e da dificuldade de enfrentarem estas dores sozinhos.
Nós, analistas, também somos afetados pelos dramas dos quais cuidamos, mas compartilhar ou demonstrar tais sentimentos podem mais atrapalhar do que ajudar as crianças e famílias em uma análise. Tais sentimentos costumam ser uma ótima bússola para ajudar no tratamento, dão notícias sobre as vivências das famílias.  Mas isto não quer dizer que entendemos ser possível achar um culpado ou uma causa única para o que está acontecendo com a criança e a família.

Toda esta discussão, da maior importância, vem sendo nosso foco, tanto nos acolhimentos institucionais como nos consultórios.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Como deve ser o trabalho de profissionais da saúde na primeira infância?

Entrevista concedida à TV UNESP

A psicanalista Mira Wajntal destaca o papel de intervenção para diagnosticar patologias


http://www.tv.unesp.br/3953




Os profissionais de saúde têm um papel fundamental ao compreender a relação entre pais e filhos a fim de diagnosticar indicadores que podem mostrar patologias graves. A psicanalista Mira Wajntal detalha o trabalho de formação no Instituto Sedes Sapientiae e da prefeitura de São Paulo nos hospitais de infância.

Mira detalha ainda que faltam políticas públicas para valorizar as crianças com problemas psíquicos.



segunda-feira, 8 de abril de 2013

PAIS CANGURU

É possível confeccionar o seu







Há alguns anos morriam quase todos os prematuros numa cidade da Colômbia que não tinha incubadoras equipadas. Aí, o diretor do hospital teve uma ideia genial - criar uma incubadora prática, eficaz e gratuita: o próprio corpo da mãe, permitindo o contato pele a pele entre a mãe e o recém-nascido.
Assim, o bebê mantém sua temperatura (não perde calor) e fica perto de sua fonte de alimentação - a mama materna. Esse método lembra o que garante a vida do filhote do canguru que logo ao nascer sobe pelo corpo da mãe e entra dentro de uma bolsa que o aquece e contém as mamas.
O resultado foi uma surpresa maravilhosa e, por isso, foi adotado em muitos países. Nos lugares pobres, o método é usado “em vez de” a tecnologia e nos países desenvolvidos é utilizado “além de” a tecnologia para humanizar o atendimento do prematuro e permitir o estabelecimento do vínculo afetivo entre mãe e o recém nascido, além de apressar a alta hospitalar.
Como é: o prematuro fica pelado só com fraldas (se necessário, de touca na cabeça e um cobertor nas costas) e é mantido de pé, debaixo da blusa da mãe, contato pele a pele, entre as mamas (sem sutiã). Curiosamente, outros familiares e o próprio pai podem servir temporariamente de “mãe canguru”.
No Brasil, o pioneiro foi o Hospital Guilherme Álvaro,da Faculdade de Medicina de Santos.



Texto elaborado pelo Prof. Dr. Jayme Murahovschi, em um projeto que desenvolemos conjuntamente (1999 - 2001)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TERAPIA DE CASAL E RELACIONAMENTO FAMILIAR


Um casal procura ajuda quando o seu relacionamento gera tanto atrito que passa a ser insuportável para um ou ambos. Cada um deve estar  se perguntando o que aconteceu com todos aqueles sentimentos e expectativas do início do casamento.  Podem estar pensando: "se soubessem que seria assim não teriam casado". Esta ideia parece, agora, ser uma perturbação constante, e não se tem a menor pista do porque de tal mudança.
Todo casamento está baseado em um pacto matrimonial. Isto é, fazemos algumas escolhas, sem nos darmos conta de aspectos familiares no parceiro. Não é por acaso, por exemplo, que uma mulher que não conheceu o pai, acabe por se casar com um homem distante que só a faz se sentir, mais uma vez, sem a tão almejada presença masculina.
Como disse, nem sempre percebemos a natureza e extensão deste pacto. Nossas atitudes são, na maioria das vezes, motivadas tanto por razões conhecidas, como pelas desconhecidas. Quando nos damos conta deste lado inesperado da relação, em geral ligado a motivos que aparentemente desconhecemos, tomamos um belo susto. Com freqüência, nos vemos pensando que estamos em uma relação próxima a aquilo que mais repudiamos na vida. “Como assim? Bem eu que queria tanto como companheira(o) alguém que não se metesse em tudo como minha mãe”, pensará.
De repente nos vemos enredados justamente naquilo que queríamos evitar?  “Mas logo comigo?”.
Isto acontece, e com freqüência, com todo mundo. Por que?
Trazemos um tipo especial de herança chamada de "herança simbólica". Ela é composta pelas histórias familiares, os segredos, desejos  e temores que nossos pais projetaram em nós. A motivação desconhecida e surpreendente que surgem nas relações que estabelecemos com o mundo e no nosso pacto matrimonial provem desta  herança simbólica. Parece que precisamos concretizá-la ou atualizá-la no presente para dela saber. Ou seja, sem perceber, escolhemos características nos pares que remetem, justamente, às recordações da história familiar que são mais delicadas e difíceis de lidar para nós.
Em um atendimento de casal, direciona-se a escuta para o pacto matrimonial realizado pela dupla. Ao conseguir perceber toda esta rede de tramas em que o relacionamento do casal está envolvido e a participação ativa de cada uma das partes justamente naquilo de que se queixam, cada qual estará realmente apto para decidir o destino de seu casamento e sua família.
De maneira geral, uma terapia de casal ou familiar visa liberar os indivíduos envolvidos na queixa para que possam se posicionar frente à relação com o parceiro e seguir o curso de suas vidas com mais satisfação e qualidade de vida.

domingo, 16 de setembro de 2012

DESENTENDIMENTOS DO CASAL SOBRE A EDUCAÇÃO DOS FILHOS...


Todos os pais ou casais já enfrentaram discussões, aparentemente sem fim, devido a divergências banais, quer sejam referente à educação do filho, quer por ideais ou interesses divergentes. Também não é raro que um dos pais venha a atribuir o comportamento indesejado do filho ao parceiro.
O que está acontecendo?
Como saber a hora e o tipo de ajuda que podemos procurar?
Podemos pensar estes episódios sob dois aspectos: o do casal e o da criança.
Para pedir socorro referente a algo que não vai bem ou a faz sofrer, uma criança lança mão de comportamentos que incomodem alguém próximo, em geral, os pais. É a sua maneira de expressar o que não consegue falar claramente como um adulto. Não se espera que uma criança consiga convocar um adulto para discutir a relação ou dizer que está magoada com alguma atitude ou decisão. Mas é freqüente que comece a ficar agressiva, ir mal na escola ou a se recusar a entender a matemática.
Na clínica, chamamos isto de um sintoma que comunica algo para um destinatário certo. E com o trabalho de escuta poderemos decifrar para quem é a mensagem e o porque desta mensagem. É por isto que alguns terapeutas especializados em crianças despendem uma parte do trabalho escutando os pais.
Esta parte do atendimento presume que, primeiro, a mensagem chegou de algum jeito e fez o seu efeito, portanto já há um trabalho para se realizar. Ou seja, o ato da criança incomoda e, ao incomodar, entendemos que ele é uma mensagem que chegou, mesmo que desta forma torta ao seu destinatário. Então teremos de checar como o destinatário, geralmente os pais, lidam com esta mensagem e se estão prontos para mudar de atitude.
Por exemplo, uma criança de 6 anos, com queixa de dificuldades no aprendizado, que sempre insistia na escola que os dois patinhos colocados na lousa pela professora são iguais a três e, por mais que se explicasse, ela recusava a explicação. Durante o atendimento do casal, a mãe contou que o filho é adotado e não sabia. Podemos supor que sua dificuldade em matemática pega uma carona no fato de haver um grande mistério em torno de sua origem. Pois na geração dos filhos "um mais um é igual a três". O trabalho feito com esta família foi sobre a possibilidade de contar a verdadeira história da criança para ela. O trabalho de revelação desta história possibilitou a esta criança ter um desempenho muito melhor na escola.
O segundo motivo de se realizar um trabalho com toda família é a suposição de que a criança está em desenvolvimento e, por isto, não tem a maturidade para poder assumir e nem promover uma mudança sozinha, necessitando do apoio dos pais. No exemplo acima, ela não poderia se encarregar sozinha de desvendar o mistério de sua origem. Neste caso, justificou-se tanto atender a família como a criança.
Assim pode-se dizer que quase toda psicoterapia infantil terá que contemplar um atendimento ou familiar, ou do casal, ou dos pais em separado, dependendo da escuta e do diagnóstico que o clínico fará da dinâmica envolvida na queixa.
Algumas vezes, apenas a escuta dos pais será o suficiente para que a criança não precise mais lançar mão do seu sintoma para comunicar o que não conseguia e possa seguir o curso do seu desenvolvimento como o esperado.
Nem sempre o trabalho é longo como uma análise individual de um adulto, mas pode levar qualquer um dos familiares a concluir que queiram um trabalho deste tipo.
Portanto, frente ao comportamento do filho que pode nos parecer insuportável e incompreensivo, vale a pena refletir se o mesmo carrega uma mensagem cifrada sobre suas dificuldades. Quando os pais não conseguem solucionar apenas na esfera familiar, talvez seja indicado consultar um profissional.

domingo, 9 de setembro de 2012

GESTAÇÃO INDEPENDENTE


Hoje em dia, e cada vez com mais freqüência, encontramos a mãe independente e, também, alguns pais independentes. Há um leque bem diverso de situações que faz com que apenas um dos pais esteja presente na vida da criança. O que temos em comum seriam as angústias e dúvidas dos pais nos momentos em que se sentem sozinhos devido a esta condição.
A primeira questão que se coloca é se estamos diante de uma opção ou não. A gravidez não planejada não é questão exclusiva da mãe independente, é mais difícil de enfrentá-la ao não se contar com o apoio do parceiro. Também passam a ser cada vez mais frequentes situações em que o pai quer a criança, mas não a relação com a mãe.
O tipo de relação entre os pais da criança também interfere nos sentimentos da mãe gestante e do futuro pai. Quando é fruto de uma relação mais longa, na qual se conhece mais o parceiro e sua história, a mulher pode vir a se sentir mais amparada afetivamente e financeiramente. A presença ou ausência do pai da criança acaba sendo ou um facilitador ou um problema, dependendo da relação que estabeleceram, se há mágoas e rancores ou entendimento e harmonia entre os parceiros.
A questão financeira também será um importante fator de estabilidade ou instabilidade para os pais independente. Se houver dependência financeira de seus pais, os futuros avós, certamente terão que lidar com a opinião deles, sua aceitação ou rejeição da gestação e da criança. Muitos avós podem implicar bastante durante a gestação, mas após o nascimento mudam o comportamento e se tornam avós exemplares. Outros, por valores morais, sempre ficarão cobrando o fato. Por sorte, hoje em dia, os pais independentes já não sofrem tantos obstáculos e preconceitos sociais como antigamente.
De qualquer forma a maneira como uma família recebe a notícia da vinda de um novo bebê, seu apoio ou rejeição, deixa sua marca. Tudo é sempre mais fácil quando se conta com o suporte afetivo e financeiro de uma família.
Por fim, a mãe independente terá que pensar como esta gestação e este filho coincidem com os seus planos e ideais. Ou seja, se a gestação veio a interromper algum projeto, se combina com o que imaginava para sua vida. Agora a mulher terá de reorganizar suas prioridades.
Toda mulher, todo homem têm conflitos e se questionam sobre seu desejo de maternidade e paternidade, mas esta passagem normal e esperada em torno de toda gestação pode adquirir outro caráter quando não se pode contar com o parceiro. Como dissemos acima, talvez tudo seja mais difícil quando nos sentimos sós. Mas este sentimento não é privilégio da mãe independente, nem do pai independente.
O pai se encontra na situação de ser independente, em geral, ou pelo abandono da mãe, deixando a criança aos seus cuidados, ou por alguma fatalidade na qual a mesma se viu afastada das suas funções. Nestes casos, o homem também terá que enfrentar a situação de cumprir um duplo papel, para o qual ele não se sente habilitado. Quando a separação ocorreu devido a uma fatalidade, o pai terá que lidar com um luto, além da nova condição.
Em matéria de maternidade ou paternidade, dependendo da maneira como se lida ou suporta as dificuldades, isto fará toda diferença na vida do filho. Então devemos cuidar bastante desta questão.
Portanto, cuidado para não cobrar do filho mágoas e sentimentos hostis que venham a nutrir do parceiro. A criança não pode ser culpada pelos seus sentimentos. Por mais que as circunstâncias da concepção de uma criança possam ser dolorosas, ela não deve arcar com o peso de seu sofrimento.
Por outro lado, se os pais se sentem em dívida pelo fato de não terem tido um relacionamento estável que tenha resultado em uma família de constelação tradicional, corre-se o risco de superproteger a criança, antecipando qualquer necessidade que seu filho venha a ter, justamente para que ele não se sinta diferente. Só que é importante reconhecer que esta diferença é sentida primeiro pelos pais, e os cuidados seriam a tradução disto.
Quando a criança não conhece ou convive com um dos pais, sempre rondará a preocupação se isto se tornará um problema na vida do filho. Nestes casos, quanto maior for a dificuldade do pai presente em lidar com a situação, mais isto poderá ser de difícil elaboração para a criança.
Qualquer que seja a situação, o importante é tentar falar às claras com a criança sobre os seus sentimentos e assumir as suas dificuldades, não esperando que ela compartilhe com você a mesma visão, deixando-a livre para ter uma imagem de pai e mãe que, não necessariamente, coincida com a relação que você estabelece ou estabeleceu com o parceiro.

domingo, 2 de setembro de 2012

E A PIMENTA CIUMENTA ATACA NOVAMENTE !


Lidar com os ciúmes dos filhos não é tarefa fácil. Em geral, acreditamos que é um problema apenas entre irmãos, mas logo que se inicia a convivência em grupo, vemos que todos, adultos e crianças, passamos pelo drama do ciúme. E aí está a primeira grande chave para lidar com a questão: assumir que ciúme existe e todos nós sentimos.
Então, acredito que a melhor maneira de ajudar os nossos pequenos é disponibilizar para eles a nossa compreensão das coisas, ajudando-os a entender alguns sentimentos que por vezes não são fáceis de ter.
Sou mãe de duas crianças com pouca idade de diferença. Sei que o drama dos ciúmes é quase cotidiano. Bom... mas como não ter ciúmes de ser a  "pêssega" da mamãe? Ou ser a "bochechinha cereja" mais linda do mundo? As cenas de manifestações de ciúmes são infernais, quase inibem os nossos mais apaixonados afetos pelos filhos, o que também é muito ruim.
Foi, então, que a anti-heroína Pimenta Ciumenta surgiu em nossa casa. Ataca a todos nós, sem exceção! Em geral, quando uma criança está recebendo muita atenção, ouvimos o choro da outra sendo atacada por ela:
- Puxa vida! Olha a Pimenta Ciumenta, tá atacando! Vem para cá, pertinho, você também, que a gente faz ela ir embora.
Como esta Pimenta Ciumenta é chata, também ataca sempre quando estamos sozinhos, hein?
Hora da refeição e as crianças brigam para ver quem é que vai sentar perto do pai. Não é que a Pimenta também atacou a mamãe?!
O fato é que esta anti-heroína ajudou tanto a elaborar e mataforizar este dramático cotidiano que, recentemente, até a convidei para participar dos ateliers terapêuticos que coordeno – ela fez bastante sucesso! 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

UMA CLÍNICA PARA QUEM NÃO FALA


Escutar aqueles que não falam e propor um modelo para esta clínica, aparentemente, para alguns, pode soar absurdo, uma vez que dentro dos paradigmas psicanalíticos supomos que é necessário um sujeito que fale e outro que escute sobre uma transferência. Os bebês e a maioria das crianças que sofrem das patologias precoces do contato com o outro não falam, mas sempre são acompanhados por aqueles que muito têm deles a falar.
Desta forma, o atendimento destas crianças ou bebês contempla pelo menos mais uma pessoa: aquela que se responsabiliza pelos seus cuidados e exerce a função materna. Neste modelo, acredita-se que a constituição do sujeito psíquico deva ser realizada com a presença daqueles que exercem esta função.
A principal particularidade do atendimento de criança é a maneira como este é demandado: sempre haverá, primeiro, um adulto falando por ela. Um adulto a quem o sintoma ou manifestação da criança fez sentido ou é reconhecido como fonte de sofrimento.
Portanto, o atendimento pode implicar em várias constelações, em geral, logo entra em cena a família. Na maioria das vezes, atender uma criança implica em escutar toda a família. Esta situação será mais gritante quanto menos a criança puder falar por si. Quanto menos fala o sujeito, mais falam por ele, demandam por ele. Será necessário, então, entender esta demanda e explicitá-la. O manejo destas outras falas em torno da criança estará diretamente ligado a uma concepção, ou melhor, ao diagnóstico que o clínico fará da situação.

domingo, 26 de agosto de 2012

A CRIANÇA, SUA MÃE, SUA CHUPETA E A LOJISTA.


Tirar a chupeta de nossos pequenos é sempre um tema de nosso interesse. Depois do primeiro ano de vida, nenhum dos pais acha legal seu uso, mas tem enorme dificuldade em tirá-la. A criança acaba então utilizando-a até depois dos dois anos.
Nesta ocasião, ela pode ser um fator que prejudique a aquisição da fala. E os pais começam a ir atrás das receitas e de uma almejada solução milagrosa. Todo mundo terá uma história para contar: algumas bem sucedidas, outras sofridas. Há crianças que reagem muito bem e colaboram, sentindo que estão crescendo, outras ficam enfurecidas investindo todo seu ódio contra os pais.
Recentemente passei por uma situação que me ensinou muito sobre o tema. Já vinha tentando tirar a chupeta da Filha de 2 anos, há alguns meses. Ela abusava de sua chupeta. Qualquer frustração a procurava, não queria tirá-la para brincar e, por fim, nem queria tirar para falar. Embora ela tenha uma boa aquisição da fala, esta estava visivelmente ficando comprometida.
O primeiro passo foi ensiná-la a não utilizar a chupeta durante o dia, mas apenas para dormir. Depois a investida foi que ela jogasse fora a chupeta. Mas, como? Jogar fora?
Entramos em uma loja e dissemos o seguinte: “Escolha o que você quiser que quando você parar de chupar chupeta vamos lhe dar”. A loja era maravilhosa e qualquer criança lá fica seduzida, não foi difícil escolher coisas muito interessantes para ganhar quando jogasse fora a chupeta. A lojista - esperta esta lojista, logo comentou: sabe, eu conheço uma fadinha que guarda as chupetas e te dá o presente que você quiser”. Não precisa nem dizer que os olhos dela brilharam. “Eu quero, eu quero dar minha chupeta para fadinha!”.
Pois é, e nós pais insensíveis queríamos jogar fora àquilo que é um objeto de amor da criança! Quantas vezes esta chupeta já não havia ido para o lixo sob o olhar angustiado da nossa filha, que minutos depois entrava em desespero para reavê-la. Nem conseguimos nos lembrar que introduzimos a chupeta provavelmente para, de alguma forma, nos substituir. Que insensibilidade...
Embarcando na deixa da lojista, contamos que a fada transformaria a chupeta dela em estrelinha e, nas noites bonitas ela, a Flávia, poderia vê-la. Às vezes são espertos os pais.
Uma semana depois, levamos suas chupetas para a fadinha. Missão executada, e naquela primeira tarde, na hora do soninho um pouco de choro, 15 minutos exatamente, e nada de dormir. Fomos à Festa Junina da escola e, no fim de tarde, após a festança uma estrela aparece no céu. O pai mais que de pressa mostrou: “Olhe sua chupeta que virou estrela!”
Ela olhou emocionada, suspirou. Antes de dormir, foi até a janela, deu mais algumas suspiradinhas saudosas, mas se deitou sem pedir pela chupeta.
Ela ainda tem um pouco de dificuldade de adormecer e, às vezes, fica a olhar as estrelas com saudosismo, mas está muito orgulhosa pela conquista. 
 Podemos tirar a seguinte lição: se quisermos tirar a chupeta da criança, devemos lhe conferir seu verdadeiro valor. Para ela não são objetos que ficaram obsoletos como para nós. São objetos amados e, às vezes, até considerados como parte do próprio corpo. Portanto devemos trata-los assim.

domingo, 19 de agosto de 2012

O DILEMA DOS PAIS DIANTE DO SONO DO FILHO



Minha filha, com quase dois anos e meio, costumava visitar a cama dos pais durante a noite. Numa dessas típicas conversas diurnas sobre o assunto, ela questionou: “Eu não quero dormir sozinha”. Expliquei que ela dormia junto com a sua irmã mais nova, no mesmo quarto.

“Não, mamãe, ela tem o berço dela. Eu não quero dormir sozinha!”, ela exclamou.

 “Bom, quando você crescer, vai ter um namorado, vai se casar e dormir com ele”, eu disse.

“E isso vai demorar muito?”, ela perguntou.

Minha filha de quatro anos é uma destas crianças que, junto conosco, desenvolveu rituais muito criativos para dormir. Tão criativos, que transformaram o ato de dormir em uma complicada tarefa de horas; e, claro, nossas vidas, em um inferno.

Como “santo de casa não faz milagre”, fui atrás dos inúmeros textos e materiais sobre como lidar com o adormecer do filho. E logo um dilema se impôs: se, por um lado, a escola cognitivista fornece uma série de receitas de como adaptar o filho a um comportamento esperado (tipo “nana nenê”); por outro lado, meus colegas psicanalistas costumam dizer que “por trás de todo distúrbio de sono, há um grande problema escondido no armário”.

Os esquemas comportamentais, às vezes, podem ser muito úteis, principalmente nas situações em que é necessário ensinar uma criança a dormir e tirar a chupeta. A ressalva está mais na forma como eles são adotados, do que em seu viés educativo. É certo que temos que ensinar nossos pequenos a dormirem sozinhos, mas é complicado deixá-los por muito tempo chorando, em desamparo, até cairem em exaustão.

Pois é certo que o sono das crianças, assim como o dos adultos, varia do estado mais profundo para o mais desperto. Nesse estado mais desperto, a criança checa se os rituais ou objetos necessários para seu adormecer estão presentes. Caso não estejam, ela chora, chama os pais etc. Portanto, os pais precisam ensinar a criança a prescindir dos “rituais amalucados” a que está acostumada para conciliar o sono, para, então, se conformar apenas com um travesseiro, bichinho ou, simplesmente, sua cama.

Bom, e aí? O que fazer? Se tento acabar com as pequenas “manias”, posso estar “abafando” um problema; se as mantenho, enlouqueço! A solução encontrada foi, sem dúvida, uma medida pedagógica, com prêmios, conquistas marcadas em calendário e pequenas metas a serem atingidas. Em um mês, minha filha conseguiu adormecer sozinha, e creio que foi muito bom para ela essa conquista de autonomia. Digo também que é extremamente útil, nessas situações, os pais se questionarem o porquê da criação de todos esses rituais, ou mesmo conferirem se há um problema, um “probleminha”, ou, ainda, um monstrão guardado no armário. E é justamente com esses questionamentos e práticas que esse possível “monstrão” pode aparecer e, assim, ser devidamente combatido.


POR QUE MEU FILHO AINDA NÃO FALA?



Ao colocar nossos filhos na escola, inevitavelmente, nós pais começamos a comparar os pequenos. É obvio que encontraremos inúmeras diferenças entre eles, tanto no seu desenvolvimento como nas aptidões de cada um. A fala, em geral, será o que nos gera mais ansiedade.
É sempre bom lembrar que cada criança tem um ritmo próprio de desenvolvimento e, surpreendentemente, algumas crianças estão cada vez mais precoces. Esta precocidade não invalida que as primeiras palavras com significado sejam esperadas até os dois anos. O fato de uma criança não iniciar cedo a fala também não significa que terá outras aquisições tardias. Mas a ansiedade dos pais em torno do problema pode, sim, deixar suas marcas.
Cabe aqui ressaltar que, nesta idade, o mais importante é que a criança esteja na linguagem, isto é, que determinados sons e sinais tenham o mesmo valor de comunicação.
Alguns comportamentos e fatos na história da criança podem ser norteadores para os pais saberem se devem ou não consultar um profissional especializado. Ao final do segundo ano de vida, espera-se que a criança faça uso da voz para se comunicar, goste de ouvir música e de brincadeiras rítmicas. Atenda pelo seu nome quando chamada e tenha interesse por crianças da mesma idade, não preferindo brincar isolada. Mas desde os primeiros meses seria esperado que a criança olhasse nos olhos da mãe ao ser amamentada, sorrisse (até 3m), balbuciasse (em torno de 4m) e se voltasse
para a pessoa que entra no ambiente onde está (até 4m), oferecesse partes do corpo para brincadeiras (até 8 meses), usasse sílabas repetitivas (em torno de 9m).
O principal fator de preocupação no atraso da fala seria uma perda auditiva que poderia estar vinculada a inúmeros fatores, entre eles: problemas congênitos, prematuridade, ter permanecido por longo período em incubadoras, uso de antibióticos ototóxicos nos primeiros dias de vida, rolha de cera no ouvido, quadros de otite média.
Em segundo lugar, pautaria-se os fatores emocionais e relacionais. Desde a concepção a criança é imaginada pelos pais. Antes mesmo de seu nascimento são feitos planos para o filho dando-lhe um lugar único e próprio no mundo. Desta forma, em torno do bebê irá circula uma série de dizeres. Quando nasce, os pais, a família, lhe falam, em geral, modulando a voz de um modo todo particular, despertando, no bebê, um interesse na comunicação. Nestas conversações com o bebê, já se supõe que ele seja um bom interlocutor e alguns de nós chegamos até a responder em nome do filho, abrindo-lhe este mundo de desejos e projetos. Problemas nesta comunicação podem ser geradores de atraso da fala.
Por fim, atitudes super protetoras com a criança, também podem gerar inibições na fala. Quando os pais se preocupam exageradamente em suprir todas as necessidades do filho não lhe dando nem a oportunidade de precisar comunicá-las.
No cotidiano, a melhor sugestão que podemos dar é: converse bastante com a criança, estimule-a a responder. Não corrija sua fala, apenas repita o que ela está tentando lhe dizer da forma correta, sem expressar reprovação. Faça brincadeiras musicais e rítmicas. Procure falar e brincar frente a frente com a criança. Não esqueça, o mais importante é que estes momentos sejam de muito prazer.

por Mira Wajntal, psicanalista e  Maricy T de Almeida Fenga, fonoaudióloga