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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

" O SILÊNCIO QUE FALA"

         O filme "Silencio que fala", dirigido por Miriam Chnaiderman, dá voz aos pais de pessoas que foram diagnosticadas com autismo. São relatos de tocantes experiências sobre pessoas que se beneficiaram do trabalho psicanalítico, colhidos em várias cidades e instituições do Brasil pelo Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP).





segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

POR QUE ATENDER PAIS E CRIANÇAS?

     





“Paulo e Vera procuram auxílio para seu filho André, hoje com 4 anos, que vem apresentando comportamento de isolamento na escola. Não quer conversar com eles sobre o que está acontecendo. Prefere brincar sozinho, solicitando pouco os adultos. Requer atenção apenas quando quer alguma coisa. Vera relata que se sente isolada. Esta sensação lhe remete à sua infância, quando seu pai retornava muito alterado para casa e agredia sua mãe e irmã mais velha. Ela mergulha nesta lembrança de ambivalência: ficou de fora da cena agressiva, mas, por outro lado, isto lhe salvou. O isolamento do filho parece cutucar esta lembrança.”



O relato acima, embora fictício, ilustra o cotidiano do acolhimento clínico que se realiza no atendimento de crianças. Acolher e receber as tramas dramáticas de uma família é o nosso ofício. Sabemos como as tragédias familiares têm o dom de se emaranhar com a história subjetiva de cada um de nós. Com a família de André, o mesmo processo acontece.
Poder falar de como um evento trágico incide no drama pessoal de cada um dos envolvidos está longe de colocar ambos como causa e consequência. Mas vemos que, em muitos casos, ao realizar este trabalho de circulação dos eventos da história familiar, as condições e relações entre os membros desta família melhoram, isto é válido também para as crianças.
É da maior importância ter claro que fatos da história não são suficientes, principalmente nos casos de maior gravidade, para afirmar a causa de uma sintomatologia na infância. Mas não devemos esquecer que somos seres históricos e estamos acostumados a pensar nesta perspectiva. Somos a única espécie que tem noção do tempo, a qual cada pessoa se comporta de forma única e é capaz de construir uma trama psíquica sobre suas vivências.
Esta construção não deve ser entendida como causa de uma doença.   Ela se inscreve nas nossas vivências, principalmente diante do sofrimento. Mas não necessariamente explica a causa de uma doença. São realidades distintas. Estamos diante de uma pluralidade de fatores aonde a reconstrução de um fato difere muito da reconstituição dos fatos. Incorrer na confusão entre a possibilidade de reconstrução simbólica de uma vivência e a restituição do factual tem suas implicações éticas.
Quando vê o isolamento de seu filho André, Vera é invadida por lembranças. Ao se trabalhar tais lembranças ela terá novos recursos para lidar com André sem se paralisar diante dos sentimentos de solidão e isolamento que sua lembrança evoca. O movimento interno de Vera pode abrir novas possibilidades para André, inclusive para que este possa realizar o seu trabalho analítico. Vejam, não estamos falando de causa de uma doença e sim do movimento plástico das tramas psíquicas.
Quando uma família nos solicita ajuda, está em dificuldades e seus membros sentem-se sozinhos. Sabemos da dor dos pais quando nos procuram e da dificuldade de enfrentarem estas dores sozinhos.
Nós, analistas, também somos afetados pelos dramas dos quais cuidamos, mas compartilhar ou demonstrar tais sentimentos podem mais atrapalhar do que ajudar as crianças e famílias em uma análise. Tais sentimentos costumam ser uma ótima bússola para ajudar no tratamento, dão notícias sobre as vivências das famílias.  Mas isto não quer dizer que entendemos ser possível achar um culpado ou uma causa única para o que está acontecendo com a criança e a família.

Toda esta discussão, da maior importância, vem sendo nosso foco, tanto nos acolhimentos institucionais como nos consultórios.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Como deve ser o trabalho de profissionais da saúde na primeira infância?

Entrevista concedida à TV UNESP

A psicanalista Mira Wajntal destaca o papel de intervenção para diagnosticar patologias


http://www.tv.unesp.br/3953




Os profissionais de saúde têm um papel fundamental ao compreender a relação entre pais e filhos a fim de diagnosticar indicadores que podem mostrar patologias graves. A psicanalista Mira Wajntal detalha o trabalho de formação no Instituto Sedes Sapientiae e da prefeitura de São Paulo nos hospitais de infância.

Mira detalha ainda que faltam políticas públicas para valorizar as crianças com problemas psíquicos.



segunda-feira, 10 de junho de 2013

UMA CLÍNICA PARA A CONSTRUÇÃO DO CORPO

Em muitas oportunidades recebi famílias que traziam crianças com patologias graves.
Em geral, estas crianças, muito precocemente, haviam apresentado atraso de uma ou mais funções do desenvolvimento afetivo, cognitivo, motor, da linguagem ou da socialização que, apesar da queixa da mãe, não foram reconhecidos como sintoma pelo pediatra.
Só vieram a receber um diagnóstico aproximadamente aos seis ou sete anos e, com muita sorte, conseguiram algum tipo de tratamento, após o diagnóstico.
Nesta ocasião, o olhar dos familiares, a esperança muda, desgastada, de quem já passou por muitas consultas e nem sabe bem formular o que está acontecendo. 
Nas primeira entrevistas, os familiares pronunciam poucas palavras, parecem enunciar que para compreender seu sofrimento basta apenas ver a criança da qual se queixam. Voltam-se para o analista com a expectativa de que ele saiba explicar o que está acontecendo. A queixa familiar parece ter silenciado e a manifestação comportamental destas crianças parece ser o único testemunho do sofrimento. 
Cultivar a fala, a reflexão e a biografia nestas famílias é quase um malabarismo. Exige do clínico transportar enigmas do indizível, pesares, angústias e, assim mesmo, encontrar caminhos criativos para que as mesmas venham ao mundo da associação de idéias, isto é, para que estas famílias tomem para si a tarefa de construírem os alicerces da narrativa de suas histórias.



In: Wajntal, M. – “Uma Clínica para a Construção do Corpo”, SP, Via Lettera, 2004.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A CRIANÇA, SUA HISTÓRIA, OS PROFESSORES E A REPETIÇÃO


Nas salas de aulas, é frequente que professores e alunos encontrem crianças que pareçam ser impossíveis. Estes alunos acabam sendo marcados como difíceis. Muitas vezes, sua permanência na escola fica comprometida. Pais, crianças e professores saem "arrasados" desta experiência, prometendo nunca mais repetir o feito, mas todas as mudanças propostas não surtem efeito.
O que pode estar acontecendo?
É claro que o problema tem múltiplos fatores, mas há um aspecto que considero da maior importância, cuja explicitação resulta em eficácia, e pouco vem sendo abordado nas escolas, frente a este problema.
Trata-se do fato dos adultos que se ocupam da criança estarem induzidos a viver papéis dos quais jamais se imaginaram desempenhando. Isto é, realizam junto com a criança um tipo muito particular de rememoração, desempenhando e agindo de forma estranha para eles mesmos. Com freqüência, o educador terá a sensação de não se reconhecer ao tomar uma atitude, mas, inevitavelmente, diante desta criança, protagoniza este papel.
O que é isto?
Todos nós temos uma verdade que não é lembrada facilmente, trata-se de um esquecimento sobre um fato importante e determinante da história de cada um. Em geral, serão fatos desta natureza que rememoramos, não através de uma recordação, mas através de uma atuação, reproduzindo, sem nos darmos conta disto, temas que são motivo de conflito psíquico para nós.
O que se observa é que com esta criança considerada difícil, os profissionais acabam exercendo papéis que repetem cenas importantes da história desta criança que foram completamente esquecidas. Em geral, tais fatos da história dela estão de alguma forma relacionados com a sua dificuldade de integração. Isto pode acontecer sem que nenhum dos envolvidos possa se dar conta disto ou saiba explicitamente destes acontecimentos.
Uma vez que os profissionais caem nesta rede repetitiva da criança, ambos passam a viver fatos, entendidos como problemas pessoais, sem saber. Neste momento, a criança é deixada de escanteio e surgem vários conflitos entre os membros da equipe que trabalham com ela.
Quando é possível expressar estas vivências, nas reuniões de professores ou na supervisão institucional, veremos que independente da pessoa envolvida, o papel é desempenhado da mesma forma.
Por exemplo, João é uma criança inteligente e ativa, mas não consegue permanecer em nenhuma escola. Embora não tenha nenhuma dificuldade de aprendizagem, é muito agressivo e destrutivo com os colegas. Tem uma grande habilidade em desqualificar as outras crianças, principalmente, diante do olhar de uma autoridade, em geral a professora, deixando a outra criança muito constrangida, por vezes incapaz de prosseguir na sua produção.
Esta cena se repete quando a coordenação pedagógica da escola entra em sala com o objetivo de mediar o problema. João consegue realizar toda sorte de atitudes, colocando a professora em uma situação em que se sente muito desqualificada, portanto, constrangida diante de seus superiores. A professora chega a se questionar se é capaz de ser uma boa profissional.
Se buscarmos na história de vida de João, veremos que há alguma situação que aponta para esta vivência repetida por aqueles que lhe prestam atenção e cuidados. Situações como o fato da avó paterna nunca ter autorizado a mãe de João a ser integrante da família; ou a mãe, por ocupar uma posição de grande prestígio social, desqualifica o marido por não ser tão bem sucedido como ela -  uma insistência repetitiva na qual todos acabam se envolvendo como protagonistas.
No momento em que estas vivências são explicitadas e reconhecidas como determinantes nestes mecanismos repetitivos que impedem a inclusão da criança na escola, o peso e mal estar da equipe que se vê capturada por estes mecanismos são aliviados, produzindo uma mudança no cenário de trabalho. Todos podem reconhecer o que está ocorrendo, integrando e elaborando as vivências, o que certamente produzirá grande diferença para a criança.

sábado, 15 de dezembro de 2012

O SUJEITO NÃO É SEU DIAGNÓSTICO.


Vamos refletir sobre isto?

Com uma espectro cada vez mais sofisticado e segmentado de diagnósticos, crianças passam a ser vistas apenas como um rótulo, sem história ou subjetividade. Isto também gera a falsa ideia de que a solução para o rotulo é única. Ou seja, um único tratamento, só com um tipo eficaz de intervenção.


domingo, 2 de dezembro de 2012

CLÍNICA COM CRIANÇAS: ENLACES E DESENLACES








Reinventar a psicanálise diante de cada caso é uma prática constante da clínica com crianças. Estamos diante de um campo cuja diversidade de realidades e envolvimento com família, escola e instituições requer uso flexível e criativo dos dispositivos clínicos.


Reunimos aqui diversas experiências que discutem a clínica da primeira infância, sua peculiar dinâmica institucional, atendimento multiprofissional na intervenção precoce, inclusão em creche, início do tratamento e a especificidade da escuta da família no atendimento infantil

Apresentamos também textos sobre o final do tratamento, transtornos psicóticos, transtornos globais do desenvolvimento e o acompanhamento terapêutico com crianças para ilustrar as vicissitudes desta clínica.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

UMA CLÍNICA PARA QUEM NÃO FALA


Escutar aqueles que não falam e propor um modelo para esta clínica, aparentemente, para alguns, pode soar absurdo, uma vez que dentro dos paradigmas psicanalíticos supomos que é necessário um sujeito que fale e outro que escute sobre uma transferência. Os bebês e a maioria das crianças que sofrem das patologias precoces do contato com o outro não falam, mas sempre são acompanhados por aqueles que muito têm deles a falar.
Desta forma, o atendimento destas crianças ou bebês contempla pelo menos mais uma pessoa: aquela que se responsabiliza pelos seus cuidados e exerce a função materna. Neste modelo, acredita-se que a constituição do sujeito psíquico deva ser realizada com a presença daqueles que exercem esta função.
A principal particularidade do atendimento de criança é a maneira como este é demandado: sempre haverá, primeiro, um adulto falando por ela. Um adulto a quem o sintoma ou manifestação da criança fez sentido ou é reconhecido como fonte de sofrimento.
Portanto, o atendimento pode implicar em várias constelações, em geral, logo entra em cena a família. Na maioria das vezes, atender uma criança implica em escutar toda a família. Esta situação será mais gritante quanto menos a criança puder falar por si. Quanto menos fala o sujeito, mais falam por ele, demandam por ele. Será necessário, então, entender esta demanda e explicitá-la. O manejo destas outras falas em torno da criança estará diretamente ligado a uma concepção, ou melhor, ao diagnóstico que o clínico fará da situação.

domingo, 19 de agosto de 2012

CONSTRUIR TUDO QUE VEM À CABEÇA. UM DISPOSITIVO DE TRATAMENTO CLÍNICO

Diante da dificuldade clínica de se trabalhar com crianças e adolescentes que pouco têm o hábito de conversar com um adulto sobre suas vivências, desenvolver alguns artifícios que superassem esta dificuldade tornou-se um desafio.


Trabalhar  oferencendo uma diversidade de materiais plásticos, no consultório, mostrou-se uma excelente solução para o atendimento destas crianças. A ideia é poder fazer com que suas produções  e vivências pudessem, paulatinamente, encontrar um contexto, um sentido. Propomos  construções que contextualizassem sua expressão cotidiana, com a perspectiva de resgatar o contexto de sua história a que estas inscrições remetem.  Pois a experimentação concreta é o que possibilitava a estas crianças começarem um trabalho de encadeamento de suas vivências. O que observávamos é que a expressão comporta o registro do vivido, da fala e do desejo . 

“Construir tudo que vem à sua cabeça” passou a ser o mote destes atendimentos em atelier. Sentença que se mostrou extremamente atrativa para estes jovens, na faixa etária dos nove aos quatorze anos, momento em que associar livremente apenas com palavras parece estar inibido ou latente. Passei, então a adotar a construção com sucatas como instrumento de trabalho.



MIra Wajntal in: Bialer, M (Org.) -  O trabalho PSI na Saúde Pública. Editora novo conceito,Riberão Preto, 2011