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domingo, 22 de outubro de 2017

QUEM DECIDE EM CASA? TV NOVA!

TV NOVA!!!



Arthur, 9 anos, e Paulo, 6 anos, estavam muito ansiosos pela chegada da nova TV. Eram 16 horas quando a loja entregou. Agora eles não se continham de agitação, esperando pela chegada do pai, pois mamãe declarou que “só em sua presença” a novidade seria aberta.

Naquele dia papai chegou tarde, extenuado, mas como adiar mais um dia a espera dos filhos?

Abriram a caixa, instalaram a TV, plugaram… e como fazer funcionar? Como usar os comandos do controle? Aquela hora do noite, com o dia carregado nas costas, as letrinhas minúsculas do manual em inglês ou espanhol, parecia um desafio impossível. Eis que Arthur sugeriu: “Deixa que eu consigo!!!”

O pai disse que não, melhor ele mesmo tentar. Podemos deixar para amanhã, sugeriu depois de um tempo cansado da sopa de letrinhas que via no manual. “Olha, pai, é só sintonizar aqui.”- tentou Arthur.

Opa! Conectou-se um menu. O pai, já mais flexível, entregou o controle na mão dos garotos, enquanto prosseguia a leitura das instruções.

Arthur e Paulo disputavam o controle, começaram a brigar. A mãe interveio, sugerindo que Arthur deixasse o menor olhar um pouquinho.
“Mas ele mal sabe ler”, retrucou Arthur. “Não vai conseguir”.
Neste meio tempo, Paulo já estava dentro do modo TV e escolhendo seus desenhos para assistir.

Neste novo universo digital, muitas vezes são os filhos que detêm o saber e a habilidade, fazendo com que os pais se sintam fora “do comando”.
Muito provavelmente vocês pais leitores lembram-se de seus pais serem as grandes fontes de transmissão de saber. Mas, com certeza, já se viram na estranha situação de dependerem dos filhos tanto para decifrar, como para escolher por vocês o modelo do celular ou som e TV que vão adquirir. São eles também que, com facilidade, conseguem informações e roteiros para os programas em família. Isto os coloca em uma posição de privilegio e inverte a ordem das gerações – os filhos passam a ser os instrutores dos pais.
É claro que nós pais ficamos orgulhosos com a inteligência e “esperteza” dos filhos, afinal são melhores que a gente!!! Com rapidez decifram o que para a outra geração era desafiador e enigmático.

Esta inversão que parece banal e corriqueira nos nossos tempos pode comportar uma mensagem um tanto complicada – são eles quem sabem! E como saber, muitas vezes significa poder… serão eles que podem! Eles decidem!

Sim! Nós criamos os filhos para o mundo e superar os pais, em geral, é esperado, mas na idade adulta. O controle digital desta geração, os leva a crer em uma autonomia que pouca maturidade têm para exercê-la. Acham que podem, agora, tudo sozinhos sem a tutela de pais e professores. Muitos dos conflitos e desafios vistos nas escolas e nas famílias parecem se pautar neste tipo de vivência.

Como sair desta? Afinal é verdade que no quesito digital eles realmente levam a supremacia.
Então Pais! Vamos pensar em que outros aspectos estaríamos agindo da mesma forma? Em quais situações nós poderíamos estar abrindo mão desnecessariamente de ser o tutor do filho? Devemos ter cuidado para não acreditarmos que o fato dos nossos filhos terem esta habilidade que a nossa geração nem sequer sonhou.


QUEM DECIDE EM CASA?

Pizza de Domingo







Papai decidiu comprar um pizza para o jantar. Claro! Ele já saboreava sua tradicional e adorada calabresa… faz tempo que não comia uma, pensou… Mamãe logo concordou! Aposto que já pensava na sua de abobrinha… eis que André, 4 anos, declarou: “quero pissa de queso”. Pais se entreolharam um pouco desolados:

“Bom, pedimos 1/2 de abobrinha e 1/2 mozzarella para André. Na próxima eu escolho a nossa metade, tá bom querida?”, papai vem a conciliar.
Mamãe remenda: “E a Joana?”, filha de 2 anos do casal.
“Para ela, mozzarella está bom”, papai afirma resoluto.
“Será?” Mamãe duvida.

Como você, leitor, acha que deve acabar esta história?
O que faria no lugar destes pais?

Hoje, cada vez mais, vemos os filhos serem aqueles que decidem tudo em casa. Parece que nós, pais, deixamos de dizer o que pode ou não pode, de resolver como será uma mera pizza de domingo.

A família que, tradicionalmente, deveria ser a transmissora da cultura, portanto balizadora das normas de conduta, ultimamente, vem deixando de exercer estas funções. E a educação dos nossos pequenos, cada vez mais vem sendo delegada a cuidadores profissionais ou a instituições de educação, uma vez que os pais necessitam se afastar para trabalhar por longos períodos, restando-lhes pouco tempo para se dedicarem ao convívio com os filhos.

Quando presentes, os pais não têm vontade de dar limites ou ocupar o espaço de educadores, pois sentem-se culpados devido ao seu longo período de ausência, querendo compensar os filhos como sendo muito prazeroso os poucos momentos que podem desfrutar juntos.

Infelizmente a ideia de uma boa convivência é associada a momentos sem regras ou limites. Um momento legal seria aquele em que pode tudo! Que se pode desfrutar de tudo! As crianças vêm sendo ensinadas por nós que tudo podem, e nós adultos lhes devemos um mundo de alegrias e prazeres.

Isto acontece pelo fato dos pais temerem ser considerados pelos filhos como “pais ruins” quando além da ausência, têm que impor regras e limites. Mas não esqueçam que serão justamente estas regras e limites que farão com que os filhos cresçam seguros, não vivendo qualquer frustração como uma catástrofe irreversível.

As regras e os limites, quando bem administrados, não gerarão crianças mimadas e birrentas, revindicando que o mundo gire só em torna delas. É claro que um choro sempre tem um valor de comunicação e também não pode ser só compreendido como resultado de um mal comportamento ou birra, mas não podemos perder de vista que limites e novos desafios são importantes para a conquista da autonomia e maturidade da criança. Desta forma, quando crescerem vão poder agir como adultos. Devemos nos perguntar, seriamente se não estamos transmitindo um ideal de mundo em que tudo e todos lhes devem muita alegria e satisfações, tudo é de seu direito, todos devem lhe servir.

Portanto, pais, não deixem de dar estes contornos tão necessários para o desenvolvimento dos seus filhos. Diversão e brincadeira são muito importantes! Mas não é só isto! Ser pai e mãe é dar contorno e valores que só são transmitidos através de atitudes coerentes e consistentes. Dar rotina, regras e limites é nossa função!


domingo, 26 de outubro de 2014

DE ONDE NASCE O BULLYING?*






Se pensarmos bem sobre a vivência de ser intimidado (bullying), quer a tenhamos sofrido ou a assistido de perto, veremos que há sempre um conteúdo de vingança na intimidação. Curiosamente, a intimidação é praticada, justamente, pelas pessoas que se sentem ameaçadas ou privadas de algum bem de usufruto que um colega possui ou que ele crê que possui. Estes bens podem ser tanto materiais, como uma posição de prestígio, ou de ser amado.
O desejo de igualdade e justiça acaba por esconder seu verdadeiro objetivo que é fazer com que o outro, o rival, sinta-se exatamente como nós, sem nada.
Hoje em dia, o mundo moderno valoriza não o que se é, mas o que se tem. Acredita-se que o ter é igual a poder usufruir da vida.

Aquele que exerce a intimidação em geral é uma pessoa que teme muito perder. Isto pode ocorrer porque esta pessoa já teve vivências dramáticas, vivências de privação, ter sido vítima de bullying, ou pela resolução que deu a seu conflito invejoso[1].  O Intimidador é aquele que por temer em demasiado perder, e sabe disto, se vale de uma tentativa de liderança, atacando um colega semelhante, pessoa que tem uma fragilidade que ele identifica como igual à sua, garantindo a sua liderança e, portanto, sua imunidade ao ataque - ataca para se assegurar que não será atacado. Embora negue, o agressor está fortemente identificado com sua vítima.

Vemos que há um grande correlato entre pessoas que dizem ter sofrido uma intimidação e as que exercem uma intimidação. Ou seja, o pensamento do tipo: “já que fizeram comigo, faço por vingança” parece estar em uma parcela significativa dos casos.
Isto também nos lembra dos jogos infantis, nos quais veremos que a criança repete justamente o que há de mais desagradável para si. Esta curiosa repetição é a forma de dominar suas vivências desagradáveis. Domínio este que lhe dá prazer.

Por fim, situação que muito instiga pais e educadores é o fato das vítimas não pedirem socorro. Isto parece acontecer, em parte, pelos mesmos mecanismos. Por se ver identificado com o intimidador, que usufrui do prestígio de líder, a vítima teme perder seu lugar junto ao líder e a ele se submete. Mas, creio que na primeira oportunidade de exercer esta atividade - de intimidar - ele irá fazer, por vingança, mesmo que em outro colega ou ambiente.

Está aí uma boa chave para a discussão do tema, tanto entre pais e educadores, como em um grupo em que este processo esteja ocorrendo.





*Baseado nos comentários realizados na banca de TCA de Bruna Carvalho Simões no Colégio Oswald de Andrade (2013).


[1] Leia mais sobre os sentimentos de inveja no texto publicado sobre o tema neste blog.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A CRIANÇA, SUA HISTÓRIA, OS PROFESSORES E A REPETIÇÃO


Nas salas de aulas, é frequente que professores e alunos encontrem crianças que pareçam ser impossíveis. Estes alunos acabam sendo marcados como difíceis. Muitas vezes, sua permanência na escola fica comprometida. Pais, crianças e professores saem "arrasados" desta experiência, prometendo nunca mais repetir o feito, mas todas as mudanças propostas não surtem efeito.
O que pode estar acontecendo?
É claro que o problema tem múltiplos fatores, mas há um aspecto que considero da maior importância, cuja explicitação resulta em eficácia, e pouco vem sendo abordado nas escolas, frente a este problema.
Trata-se do fato dos adultos que se ocupam da criança estarem induzidos a viver papéis dos quais jamais se imaginaram desempenhando. Isto é, realizam junto com a criança um tipo muito particular de rememoração, desempenhando e agindo de forma estranha para eles mesmos. Com freqüência, o educador terá a sensação de não se reconhecer ao tomar uma atitude, mas, inevitavelmente, diante desta criança, protagoniza este papel.
O que é isto?
Todos nós temos uma verdade que não é lembrada facilmente, trata-se de um esquecimento sobre um fato importante e determinante da história de cada um. Em geral, serão fatos desta natureza que rememoramos, não através de uma recordação, mas através de uma atuação, reproduzindo, sem nos darmos conta disto, temas que são motivo de conflito psíquico para nós.
O que se observa é que com esta criança considerada difícil, os profissionais acabam exercendo papéis que repetem cenas importantes da história desta criança que foram completamente esquecidas. Em geral, tais fatos da história dela estão de alguma forma relacionados com a sua dificuldade de integração. Isto pode acontecer sem que nenhum dos envolvidos possa se dar conta disto ou saiba explicitamente destes acontecimentos.
Uma vez que os profissionais caem nesta rede repetitiva da criança, ambos passam a viver fatos, entendidos como problemas pessoais, sem saber. Neste momento, a criança é deixada de escanteio e surgem vários conflitos entre os membros da equipe que trabalham com ela.
Quando é possível expressar estas vivências, nas reuniões de professores ou na supervisão institucional, veremos que independente da pessoa envolvida, o papel é desempenhado da mesma forma.
Por exemplo, João é uma criança inteligente e ativa, mas não consegue permanecer em nenhuma escola. Embora não tenha nenhuma dificuldade de aprendizagem, é muito agressivo e destrutivo com os colegas. Tem uma grande habilidade em desqualificar as outras crianças, principalmente, diante do olhar de uma autoridade, em geral a professora, deixando a outra criança muito constrangida, por vezes incapaz de prosseguir na sua produção.
Esta cena se repete quando a coordenação pedagógica da escola entra em sala com o objetivo de mediar o problema. João consegue realizar toda sorte de atitudes, colocando a professora em uma situação em que se sente muito desqualificada, portanto, constrangida diante de seus superiores. A professora chega a se questionar se é capaz de ser uma boa profissional.
Se buscarmos na história de vida de João, veremos que há alguma situação que aponta para esta vivência repetida por aqueles que lhe prestam atenção e cuidados. Situações como o fato da avó paterna nunca ter autorizado a mãe de João a ser integrante da família; ou a mãe, por ocupar uma posição de grande prestígio social, desqualifica o marido por não ser tão bem sucedido como ela -  uma insistência repetitiva na qual todos acabam se envolvendo como protagonistas.
No momento em que estas vivências são explicitadas e reconhecidas como determinantes nestes mecanismos repetitivos que impedem a inclusão da criança na escola, o peso e mal estar da equipe que se vê capturada por estes mecanismos são aliviados, produzindo uma mudança no cenário de trabalho. Todos podem reconhecer o que está ocorrendo, integrando e elaborando as vivências, o que certamente produzirá grande diferença para a criança.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

PAIS CANGURU

É possível confeccionar o seu







Há alguns anos morriam quase todos os prematuros numa cidade da Colômbia que não tinha incubadoras equipadas. Aí, o diretor do hospital teve uma ideia genial - criar uma incubadora prática, eficaz e gratuita: o próprio corpo da mãe, permitindo o contato pele a pele entre a mãe e o recém-nascido.
Assim, o bebê mantém sua temperatura (não perde calor) e fica perto de sua fonte de alimentação - a mama materna. Esse método lembra o que garante a vida do filhote do canguru que logo ao nascer sobe pelo corpo da mãe e entra dentro de uma bolsa que o aquece e contém as mamas.
O resultado foi uma surpresa maravilhosa e, por isso, foi adotado em muitos países. Nos lugares pobres, o método é usado “em vez de” a tecnologia e nos países desenvolvidos é utilizado “além de” a tecnologia para humanizar o atendimento do prematuro e permitir o estabelecimento do vínculo afetivo entre mãe e o recém nascido, além de apressar a alta hospitalar.
Como é: o prematuro fica pelado só com fraldas (se necessário, de touca na cabeça e um cobertor nas costas) e é mantido de pé, debaixo da blusa da mãe, contato pele a pele, entre as mamas (sem sutiã). Curiosamente, outros familiares e o próprio pai podem servir temporariamente de “mãe canguru”.
No Brasil, o pioneiro foi o Hospital Guilherme Álvaro,da Faculdade de Medicina de Santos.



Texto elaborado pelo Prof. Dr. Jayme Murahovschi, em um projeto que desenvolemos conjuntamente (1999 - 2001)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

FELIZES PARA SEMPRE


No mundo dos contos de fadas, nas estórias destinadas à infância, observamos que temas relacionados tanto à violência como ao erotismo são frequêntes, porém atenuados, suavizados e, por fim, compensados com um final feliz. Pode-se dizer que esta preferência pelas versões modificadas contendo estas características é o que prevalece hoje em dia como oferta literária e de entretenimento para nossos pequenos.
Isto pode ser analisado tanto pela ótica dos pais, da criança como da sociedade.
As mudanças no conteúdo das estórias infantis em certa medida respondem a questões narcisistas parentais, pois os pais querem não só sinalizar, como tentam garantir os votos de um bom futuro para os filhos. Estes votos são legítimos e genuínos, possivelmente o melhor que lhes reservou a realidade.
Devemos, apenas, ter cuidado para não sermos ingênuos em dois aspectos: ao tentar mostrar um lado ideal, onde qualquer conflito termine bem, que destino uma criança pode dar ao que realmente não vai bem. Como ela se sente sabendo que sua sorte não foi exatamente a prometida? Será que nos excessivos votos de um final feliz, também contém fantasias e temores “nada felizes” das vivências, dos fracassos e frustrações da realidade?
Neste sentido, o final feliz pode trazer embutido a negação que não podemos negligenciar: nem sempre a criança vive um mundo de sucessos e isto pode ser um motivo de grande angústia quando comparado às fabulas de finais felizes. Os pais e educadores devem ficar atentos a este aspecto para poder falar abertamente do conflito produzido.

Na medida em que a sociedade confere à criança um lugar próprio, é possível também conhecer suas especificidades e saber que seus recursos de elaboração são distintos dos adultos. Uma boa parte da  modificação dos tradicionais contos infantis se deve a isto.
Devemos nos perguntar, então, o que uma criança compreende do que lhe é falado, pois expor demais a mesma a conteúdos que ela não pode suportar pode ser traumático. Com frequência, a criança pega uma "carona" nas histórias contadas para elaborar as próprias questões, o que está difícil de compreender ou "digerir".
Saber dosar informações pode ser uma medida de proteção, pois muitas vezes uma criança pode viver uma informação como excessiva, negativa e pesada ou terrífica. Mas isto também não significa deixá-la em uma redoma sem expô-la a nada. Isto também seria uma falsa ideia do que é bom para a infância.
Se observarmos a brincadeira infantil veremos que ela repete justamente o que há de mais desagradável para si. Esta curiosa repetição é a forma que a criança tem de dominar suas vivências desagradáveis, quando este domínio é bem sucedido gera prazer. Por isto, os nossos pequenos gostam tanto de repetir brincadeiras e histórias.



Texto desenvolvido a partir do Trabalho de Aproveitamento de Curso, realizado por Marina Giovedi Arnoldi "Por que eles foram felizes para sempre?", Colegio Oswald de Andrade, São Paulo, 2011 do qual participei da banca examinadora.

domingo, 2 de dezembro de 2012

CLÍNICA COM CRIANÇAS: ENLACES E DESENLACES








Reinventar a psicanálise diante de cada caso é uma prática constante da clínica com crianças. Estamos diante de um campo cuja diversidade de realidades e envolvimento com família, escola e instituições requer uso flexível e criativo dos dispositivos clínicos.


Reunimos aqui diversas experiências que discutem a clínica da primeira infância, sua peculiar dinâmica institucional, atendimento multiprofissional na intervenção precoce, inclusão em creche, início do tratamento e a especificidade da escuta da família no atendimento infantil

Apresentamos também textos sobre o final do tratamento, transtornos psicóticos, transtornos globais do desenvolvimento e o acompanhamento terapêutico com crianças para ilustrar as vicissitudes desta clínica.

domingo, 16 de setembro de 2012

DESENTENDIMENTOS DO CASAL SOBRE A EDUCAÇÃO DOS FILHOS...


Todos os pais ou casais já enfrentaram discussões, aparentemente sem fim, devido a divergências banais, quer sejam referente à educação do filho, quer por ideais ou interesses divergentes. Também não é raro que um dos pais venha a atribuir o comportamento indesejado do filho ao parceiro.
O que está acontecendo?
Como saber a hora e o tipo de ajuda que podemos procurar?
Podemos pensar estes episódios sob dois aspectos: o do casal e o da criança.
Para pedir socorro referente a algo que não vai bem ou a faz sofrer, uma criança lança mão de comportamentos que incomodem alguém próximo, em geral, os pais. É a sua maneira de expressar o que não consegue falar claramente como um adulto. Não se espera que uma criança consiga convocar um adulto para discutir a relação ou dizer que está magoada com alguma atitude ou decisão. Mas é freqüente que comece a ficar agressiva, ir mal na escola ou a se recusar a entender a matemática.
Na clínica, chamamos isto de um sintoma que comunica algo para um destinatário certo. E com o trabalho de escuta poderemos decifrar para quem é a mensagem e o porque desta mensagem. É por isto que alguns terapeutas especializados em crianças despendem uma parte do trabalho escutando os pais.
Esta parte do atendimento presume que, primeiro, a mensagem chegou de algum jeito e fez o seu efeito, portanto já há um trabalho para se realizar. Ou seja, o ato da criança incomoda e, ao incomodar, entendemos que ele é uma mensagem que chegou, mesmo que desta forma torta ao seu destinatário. Então teremos de checar como o destinatário, geralmente os pais, lidam com esta mensagem e se estão prontos para mudar de atitude.
Por exemplo, uma criança de 6 anos, com queixa de dificuldades no aprendizado, que sempre insistia na escola que os dois patinhos colocados na lousa pela professora são iguais a três e, por mais que se explicasse, ela recusava a explicação. Durante o atendimento do casal, a mãe contou que o filho é adotado e não sabia. Podemos supor que sua dificuldade em matemática pega uma carona no fato de haver um grande mistério em torno de sua origem. Pois na geração dos filhos "um mais um é igual a três". O trabalho feito com esta família foi sobre a possibilidade de contar a verdadeira história da criança para ela. O trabalho de revelação desta história possibilitou a esta criança ter um desempenho muito melhor na escola.
O segundo motivo de se realizar um trabalho com toda família é a suposição de que a criança está em desenvolvimento e, por isto, não tem a maturidade para poder assumir e nem promover uma mudança sozinha, necessitando do apoio dos pais. No exemplo acima, ela não poderia se encarregar sozinha de desvendar o mistério de sua origem. Neste caso, justificou-se tanto atender a família como a criança.
Assim pode-se dizer que quase toda psicoterapia infantil terá que contemplar um atendimento ou familiar, ou do casal, ou dos pais em separado, dependendo da escuta e do diagnóstico que o clínico fará da dinâmica envolvida na queixa.
Algumas vezes, apenas a escuta dos pais será o suficiente para que a criança não precise mais lançar mão do seu sintoma para comunicar o que não conseguia e possa seguir o curso do seu desenvolvimento como o esperado.
Nem sempre o trabalho é longo como uma análise individual de um adulto, mas pode levar qualquer um dos familiares a concluir que queiram um trabalho deste tipo.
Portanto, frente ao comportamento do filho que pode nos parecer insuportável e incompreensivo, vale a pena refletir se o mesmo carrega uma mensagem cifrada sobre suas dificuldades. Quando os pais não conseguem solucionar apenas na esfera familiar, talvez seja indicado consultar um profissional.

domingo, 2 de setembro de 2012

E A PIMENTA CIUMENTA ATACA NOVAMENTE !


Lidar com os ciúmes dos filhos não é tarefa fácil. Em geral, acreditamos que é um problema apenas entre irmãos, mas logo que se inicia a convivência em grupo, vemos que todos, adultos e crianças, passamos pelo drama do ciúme. E aí está a primeira grande chave para lidar com a questão: assumir que ciúme existe e todos nós sentimos.
Então, acredito que a melhor maneira de ajudar os nossos pequenos é disponibilizar para eles a nossa compreensão das coisas, ajudando-os a entender alguns sentimentos que por vezes não são fáceis de ter.
Sou mãe de duas crianças com pouca idade de diferença. Sei que o drama dos ciúmes é quase cotidiano. Bom... mas como não ter ciúmes de ser a  "pêssega" da mamãe? Ou ser a "bochechinha cereja" mais linda do mundo? As cenas de manifestações de ciúmes são infernais, quase inibem os nossos mais apaixonados afetos pelos filhos, o que também é muito ruim.
Foi, então, que a anti-heroína Pimenta Ciumenta surgiu em nossa casa. Ataca a todos nós, sem exceção! Em geral, quando uma criança está recebendo muita atenção, ouvimos o choro da outra sendo atacada por ela:
- Puxa vida! Olha a Pimenta Ciumenta, tá atacando! Vem para cá, pertinho, você também, que a gente faz ela ir embora.
Como esta Pimenta Ciumenta é chata, também ataca sempre quando estamos sozinhos, hein?
Hora da refeição e as crianças brigam para ver quem é que vai sentar perto do pai. Não é que a Pimenta também atacou a mamãe?!
O fato é que esta anti-heroína ajudou tanto a elaborar e mataforizar este dramático cotidiano que, recentemente, até a convidei para participar dos ateliers terapêuticos que coordeno – ela fez bastante sucesso! 

domingo, 26 de agosto de 2012

A CRIANÇA, SUA MÃE, SUA CHUPETA E A LOJISTA.


Tirar a chupeta de nossos pequenos é sempre um tema de nosso interesse. Depois do primeiro ano de vida, nenhum dos pais acha legal seu uso, mas tem enorme dificuldade em tirá-la. A criança acaba então utilizando-a até depois dos dois anos.
Nesta ocasião, ela pode ser um fator que prejudique a aquisição da fala. E os pais começam a ir atrás das receitas e de uma almejada solução milagrosa. Todo mundo terá uma história para contar: algumas bem sucedidas, outras sofridas. Há crianças que reagem muito bem e colaboram, sentindo que estão crescendo, outras ficam enfurecidas investindo todo seu ódio contra os pais.
Recentemente passei por uma situação que me ensinou muito sobre o tema. Já vinha tentando tirar a chupeta da Filha de 2 anos, há alguns meses. Ela abusava de sua chupeta. Qualquer frustração a procurava, não queria tirá-la para brincar e, por fim, nem queria tirar para falar. Embora ela tenha uma boa aquisição da fala, esta estava visivelmente ficando comprometida.
O primeiro passo foi ensiná-la a não utilizar a chupeta durante o dia, mas apenas para dormir. Depois a investida foi que ela jogasse fora a chupeta. Mas, como? Jogar fora?
Entramos em uma loja e dissemos o seguinte: “Escolha o que você quiser que quando você parar de chupar chupeta vamos lhe dar”. A loja era maravilhosa e qualquer criança lá fica seduzida, não foi difícil escolher coisas muito interessantes para ganhar quando jogasse fora a chupeta. A lojista - esperta esta lojista, logo comentou: sabe, eu conheço uma fadinha que guarda as chupetas e te dá o presente que você quiser”. Não precisa nem dizer que os olhos dela brilharam. “Eu quero, eu quero dar minha chupeta para fadinha!”.
Pois é, e nós pais insensíveis queríamos jogar fora àquilo que é um objeto de amor da criança! Quantas vezes esta chupeta já não havia ido para o lixo sob o olhar angustiado da nossa filha, que minutos depois entrava em desespero para reavê-la. Nem conseguimos nos lembrar que introduzimos a chupeta provavelmente para, de alguma forma, nos substituir. Que insensibilidade...
Embarcando na deixa da lojista, contamos que a fada transformaria a chupeta dela em estrelinha e, nas noites bonitas ela, a Flávia, poderia vê-la. Às vezes são espertos os pais.
Uma semana depois, levamos suas chupetas para a fadinha. Missão executada, e naquela primeira tarde, na hora do soninho um pouco de choro, 15 minutos exatamente, e nada de dormir. Fomos à Festa Junina da escola e, no fim de tarde, após a festança uma estrela aparece no céu. O pai mais que de pressa mostrou: “Olhe sua chupeta que virou estrela!”
Ela olhou emocionada, suspirou. Antes de dormir, foi até a janela, deu mais algumas suspiradinhas saudosas, mas se deitou sem pedir pela chupeta.
Ela ainda tem um pouco de dificuldade de adormecer e, às vezes, fica a olhar as estrelas com saudosismo, mas está muito orgulhosa pela conquista. 
 Podemos tirar a seguinte lição: se quisermos tirar a chupeta da criança, devemos lhe conferir seu verdadeiro valor. Para ela não são objetos que ficaram obsoletos como para nós. São objetos amados e, às vezes, até considerados como parte do próprio corpo. Portanto devemos trata-los assim.

domingo, 19 de agosto de 2012

O DILEMA DOS PAIS DIANTE DO SONO DO FILHO



Minha filha, com quase dois anos e meio, costumava visitar a cama dos pais durante a noite. Numa dessas típicas conversas diurnas sobre o assunto, ela questionou: “Eu não quero dormir sozinha”. Expliquei que ela dormia junto com a sua irmã mais nova, no mesmo quarto.

“Não, mamãe, ela tem o berço dela. Eu não quero dormir sozinha!”, ela exclamou.

 “Bom, quando você crescer, vai ter um namorado, vai se casar e dormir com ele”, eu disse.

“E isso vai demorar muito?”, ela perguntou.

Minha filha de quatro anos é uma destas crianças que, junto conosco, desenvolveu rituais muito criativos para dormir. Tão criativos, que transformaram o ato de dormir em uma complicada tarefa de horas; e, claro, nossas vidas, em um inferno.

Como “santo de casa não faz milagre”, fui atrás dos inúmeros textos e materiais sobre como lidar com o adormecer do filho. E logo um dilema se impôs: se, por um lado, a escola cognitivista fornece uma série de receitas de como adaptar o filho a um comportamento esperado (tipo “nana nenê”); por outro lado, meus colegas psicanalistas costumam dizer que “por trás de todo distúrbio de sono, há um grande problema escondido no armário”.

Os esquemas comportamentais, às vezes, podem ser muito úteis, principalmente nas situações em que é necessário ensinar uma criança a dormir e tirar a chupeta. A ressalva está mais na forma como eles são adotados, do que em seu viés educativo. É certo que temos que ensinar nossos pequenos a dormirem sozinhos, mas é complicado deixá-los por muito tempo chorando, em desamparo, até cairem em exaustão.

Pois é certo que o sono das crianças, assim como o dos adultos, varia do estado mais profundo para o mais desperto. Nesse estado mais desperto, a criança checa se os rituais ou objetos necessários para seu adormecer estão presentes. Caso não estejam, ela chora, chama os pais etc. Portanto, os pais precisam ensinar a criança a prescindir dos “rituais amalucados” a que está acostumada para conciliar o sono, para, então, se conformar apenas com um travesseiro, bichinho ou, simplesmente, sua cama.

Bom, e aí? O que fazer? Se tento acabar com as pequenas “manias”, posso estar “abafando” um problema; se as mantenho, enlouqueço! A solução encontrada foi, sem dúvida, uma medida pedagógica, com prêmios, conquistas marcadas em calendário e pequenas metas a serem atingidas. Em um mês, minha filha conseguiu adormecer sozinha, e creio que foi muito bom para ela essa conquista de autonomia. Digo também que é extremamente útil, nessas situações, os pais se questionarem o porquê da criação de todos esses rituais, ou mesmo conferirem se há um problema, um “probleminha”, ou, ainda, um monstrão guardado no armário. E é justamente com esses questionamentos e práticas que esse possível “monstrão” pode aparecer e, assim, ser devidamente combatido.