TV NOVA!!!
Arthur, 9 anos, e Paulo, 6 anos, estavam muito ansiosos pela chegada da
nova TV. Eram 16 horas quando a loja entregou. Agora eles não se continham de
agitação, esperando pela chegada do pai, pois mamãe declarou que “só em sua
presença” a novidade seria aberta.
Naquele dia papai chegou tarde, extenuado, mas como adiar mais um dia a
espera dos filhos?
Abriram a caixa, instalaram a TV, plugaram… e como fazer funcionar? Como
usar os comandos do controle? Aquela hora do noite, com o dia carregado nas
costas, as letrinhas minúsculas do manual em inglês ou espanhol, parecia um
desafio impossível. Eis que Arthur sugeriu: “Deixa que eu consigo!!!”
O pai disse que não, melhor ele mesmo tentar. Podemos deixar para
amanhã, sugeriu depois de um tempo cansado da sopa de letrinhas que via no
manual. “Olha, pai, é só sintonizar aqui.”- tentou Arthur.
Opa! Conectou-se um menu. O pai, já mais flexível, entregou o controle
na mão dos garotos, enquanto prosseguia a leitura das instruções.
Arthur e Paulo disputavam o controle, começaram a brigar. A mãe
interveio, sugerindo que Arthur deixasse o menor olhar um pouquinho.
“Mas ele mal sabe ler”, retrucou Arthur. “Não vai conseguir”.
Neste meio tempo, Paulo já estava dentro do modo TV e escolhendo seus
desenhos para assistir.
Neste novo universo digital, muitas vezes são os filhos que detêm o
saber e a habilidade, fazendo com que os pais se sintam fora “do comando”.
Muito provavelmente vocês pais leitores lembram-se de seus pais serem as
grandes fontes de transmissão de saber. Mas, com certeza, já se viram na
estranha situação de dependerem dos filhos tanto para decifrar, como para
escolher por vocês o modelo do celular ou som e TV que vão adquirir. São eles
também que, com facilidade, conseguem informações e roteiros para os programas
em família. Isto os coloca em uma posição de privilegio e inverte a ordem das
gerações – os filhos passam a ser os instrutores dos pais.
É claro que nós pais ficamos orgulhosos com a inteligência e “esperteza”
dos filhos, afinal são melhores que a gente!!! Com rapidez decifram o que para
a outra geração era desafiador e enigmático.
Esta inversão que parece banal e corriqueira nos nossos tempos pode
comportar uma mensagem um tanto complicada – são eles quem sabem! E como saber,
muitas vezes significa poder… serão eles que podem! Eles decidem!
Sim! Nós criamos os filhos para o mundo e superar os pais, em geral, é
esperado, mas na idade adulta. O controle digital desta geração, os leva a crer
em uma autonomia que pouca maturidade têm para exercê-la. Acham que podem,
agora, tudo sozinhos sem a tutela de pais e professores. Muitos dos conflitos e
desafios vistos nas escolas e nas famílias parecem se pautar neste tipo de
vivência.
Como sair desta? Afinal é verdade que no quesito digital eles realmente
levam a supremacia.
Então Pais! Vamos pensar em
que outros aspectos estaríamos agindo da mesma forma? Em quais situações nós
poderíamos estar abrindo mão desnecessariamente de ser o tutor do filho?
Devemos ter cuidado para não acreditarmos que o fato dos nossos filhos terem
esta habilidade que a nossa geração nem sequer sonhou.
Mira, fiquei curiosa para conhecer seu texto atual. E adorei! Muito gostoso de ler. beijo
ResponderExcluirOlá, Anastácia.
ResponderExcluirObrigado!
No blog há vários textos e tenho outras publicações em livros, revistas. Alguns textos são, facilmente, encontrados em mídia digital.
Um abraço,
Mira