Hoje
em dia, e cada vez com mais freqüência, encontramos a mãe independente e, também,
alguns pais independentes. Há um leque bem diverso de situações que faz com que
apenas um dos pais esteja presente na vida da criança. O que temos em comum
seriam as angústias e dúvidas dos pais nos momentos em que se sentem sozinhos
devido a esta condição.
A primeira questão que se coloca é se estamos
diante de uma opção ou não. A gravidez não planejada não é questão exclusiva da
mãe independente, é mais difícil de enfrentá-la ao não se contar com o apoio do
parceiro. Também passam a ser cada vez mais frequentes situações em que o pai
quer a criança, mas não a relação com a mãe.
O tipo de relação entre os pais da criança
também interfere nos sentimentos da mãe gestante e do futuro pai. Quando é
fruto de uma relação mais longa, na qual se conhece mais o parceiro e sua
história, a mulher pode vir a se sentir mais amparada afetivamente e
financeiramente. A presença ou ausência do pai da criança acaba sendo ou um
facilitador ou um problema, dependendo da relação que estabeleceram, se há
mágoas e rancores ou entendimento e harmonia entre os parceiros.
A questão financeira também será um
importante fator de estabilidade ou instabilidade para os pais independente. Se
houver dependência financeira de seus pais, os futuros avós, certamente terão
que lidar com a opinião deles, sua aceitação ou rejeição da gestação e da
criança. Muitos avós podem implicar bastante durante a gestação, mas após o
nascimento mudam o comportamento e se tornam avós exemplares. Outros, por
valores morais, sempre ficarão cobrando o fato. Por sorte, hoje em dia, os pais
independentes já não sofrem tantos obstáculos e preconceitos sociais como
antigamente.
De qualquer forma a maneira como uma família
recebe a notícia da vinda de um novo bebê, seu apoio ou rejeição, deixa sua
marca. Tudo é sempre mais fácil quando se conta com o suporte afetivo e
financeiro de uma família.
Por fim, a mãe independente terá que pensar
como esta gestação e este filho coincidem com os seus planos e ideais. Ou seja,
se a gestação veio a interromper algum projeto, se combina com o que imaginava
para sua vida. Agora a mulher terá de reorganizar suas prioridades.
Toda
mulher, todo homem têm conflitos e se questionam sobre seu desejo de
maternidade e paternidade, mas esta passagem normal e esperada em torno de toda
gestação pode adquirir outro caráter quando não se pode contar com o parceiro.
Como dissemos acima, talvez tudo seja mais difícil quando nos sentimos sós. Mas
este sentimento não é privilégio da mãe independente, nem do pai independente.
O pai
se encontra na situação de ser independente, em geral, ou pelo abandono da mãe,
deixando a criança aos seus cuidados, ou por alguma fatalidade na qual a mesma
se viu afastada das suas funções. Nestes casos, o homem também terá que
enfrentar a situação de cumprir um duplo papel, para o qual ele não se sente
habilitado. Quando a separação ocorreu devido a uma fatalidade, o pai terá que
lidar com um luto, além da nova condição.
Em matéria de maternidade ou paternidade,
dependendo da maneira como se lida ou suporta as dificuldades, isto fará toda
diferença na vida do filho. Então devemos cuidar bastante desta questão.
Portanto, cuidado para não cobrar do filho
mágoas e sentimentos hostis que venham a nutrir do parceiro. A criança não pode
ser culpada pelos seus sentimentos. Por mais que as circunstâncias da concepção
de uma criança possam ser dolorosas, ela não deve arcar com o peso de seu
sofrimento.
Por outro lado, se os pais se sentem em
dívida pelo fato de não terem tido um relacionamento estável que tenha
resultado em uma família de constelação tradicional, corre-se o risco de
superproteger a criança, antecipando qualquer necessidade que seu filho venha a
ter, justamente para que ele não se sinta diferente. Só que é importante
reconhecer que esta diferença é sentida primeiro pelos pais, e os cuidados
seriam a tradução disto.
Quando a criança não conhece ou convive com
um dos pais, sempre rondará a preocupação se isto se tornará um problema na
vida do filho. Nestes casos, quanto maior for a dificuldade do pai presente em
lidar com a situação, mais isto poderá ser de difícil elaboração para a
criança.
Qualquer que seja a
situação, o importante é tentar falar às claras com a criança sobre os seus
sentimentos e assumir as suas dificuldades, não esperando que ela compartilhe
com você a mesma visão, deixando-a livre para ter uma imagem de pai e mãe que,
não necessariamente, coincida com a relação que você estabelece ou estabeleceu
com o parceiro.