
A desvantagem é que desde que ele passou a ser descrito desta
forma, uma quantidade muito grande de crianças passaram a receber este
diagnóstico, criando um espectro enorme de casos clínicos, muito diferentes, em
um mesmo enquadramento.
A resposta de como perceber que uma pessoa é portadora de autismo
também não é simples. Atualmente, tanto as pesquisas como as diversas terapias
e modalidade de tratamento apontam para o fato de que quanto mais cedo se intervém,
melhor o prognóstico e menos custoso será o tratamento. De qualquer forma, não
se deve dar este diagnóstico antes dos 2 – 3 anos. Mas, nesta ocasião, já
perdemos a oportunidade de agir, quando há
maior neuroplasticidade, possibilitando que se faça uma intervenção
antes que se instale definitivamente um processo mórbido. Então o mais
interessante é que possamos saber detectar sinais de alerta de que um bebê não
está bem. Realizar uma intervenção em tempo, antes que as estruturas do
funcionamento mental se instaurem em definitivo.
A dificuldade de tudo isto é não estabelecer
uma linha direta do tipo há a presença de um sinal de alerta, logo o bebê é
autista. Isto seria criminoso e iatrogênico, ou seja, um distúrbio provocado
pelo tratamento.
Em
pediatria todo sinal deve ser visto ao longo do desenvolvimento. Um diagnóstico
em saúde mental na infância deveria obedecer a mesma regra.
Uma política
de intervenção precoce não pretende fazer diagnóstico no primeiro ano de vida,
mas detectar, a partir de sinais de riscos, possíveis problemas no
desenvolvimento do bebê com a finalidade de intervir.
Desta forma,
o que é um sinal que nos faz perceber o autismo será muito diferente para cada
idade.
Para crianças
maiores de 3 anos podemos observar os seguintes sinais (Kanner 1943):
·
Evitam tanto o contato físico como o contato
pelo olhar;
·
Tratam as outras pessoas como se fossem objetos;
·
Apresentam fala repetitiva;
·
Têm reações de horror a qualquer perturbação do
meio;
·
Apresentam sensibilidade e memória fenomenais
para qualquer alteração de rotina, detalhes ou objetos;
·
Suas ações são repetitivas e monótonas;
·
Ficam por longos períodos balançando-se
(balanceio corporal);
Particularmente, me interesso
pelo reconhecimento precoce de que um bebê não está bem na relação com o outro.
As pesquisas feitas a partir dos pressupostos da psicanálise, indicam como
sinal comum a todas as crianças de risco de desenvolver autismo a ausência de
um "interesse pelo interesse" de seu cuidador, em geral os pais.
Os bebês nascem com “a motive
for the motive of the other”. Não é o caso
dos bebês que se tornam autistas. Se fizermos uma pesquisa retroativa
sobre seus primeiros anos de vida - isto já foi feito em acervo de filmes
caseiros de crianças que vieram a receber o diagnóstico de autismo - veremos
que em nenhum momento ele toma as rédeas da situação, para se fazer ele mesmo
objeto de brincadeiras com a mãe. Ou seja, quando uma mãe brinca com o bebê,
ele não só se diverte, como consegue perceber o valor que ele tem para estes
que dele cuidam. Quando um jogo de beijos ou cócegas, por exemplo, é
interrompido, é esperado que a partir do oitavo/nono mês o bebê passe a fazer provocações
para retomar a brincadeira que causava prazer, tanto para ele como para a mãe.
·
Não fazem contato olho a olho (até os 2 meses);
·
Não fazem qualquer gesto imitativo quando um
adulto interage com ele.
·
Não sorriem (3 meses);
·
Não dirigem o olhar quando falam com ela (3
meses);
·
Não demonstram qualquer atitude antecipatória em
direção aos adultos que lhes despendem os cuidados, sendo de difícil ajuste à
posição do corpo quando carregadas(4 -5 meses);
·
Não balbuciam (4 -5 meses);
·
São indiferentes à presença ou ausência do cuidador
(4-5 meses);