Se
pensarmos bem sobre a vivência de ser intimidado (bullying), quer a tenhamos
sofrido ou a assistido de perto, veremos que há sempre um conteúdo de vingança
na intimidação. Curiosamente, a intimidação é praticada, justamente, pelas
pessoas que se sentem ameaçadas ou privadas de algum bem de usufruto que um
colega possui ou que ele crê que possui. Estes bens podem ser tanto materiais,
como uma posição de prestígio, ou de ser amado.
O
desejo de igualdade e justiça acaba por esconder seu verdadeiro objetivo que é
fazer com que o outro, o rival, sinta-se exatamente como nós, sem nada.
Hoje em dia, o mundo moderno valoriza
não o que se é, mas o que se tem. Acredita-se que o ter é igual a poder
usufruir da vida.
Aquele que exerce a intimidação em
geral é uma pessoa que teme muito perder. Isto pode ocorrer porque esta pessoa
já teve vivências dramáticas, vivências de privação, ter sido vítima de
bullying, ou pela resolução que deu a seu conflito invejoso[1]. O Intimidador é aquele que por temer em
demasiado perder, e sabe disto, se vale de uma tentativa de liderança, atacando
um colega semelhante, pessoa que tem uma fragilidade que ele identifica como
igual à sua, garantindo a sua liderança e, portanto, sua imunidade ao ataque -
ataca para se assegurar que não será atacado. Embora negue, o agressor está
fortemente identificado com sua vítima.
Vemos que há um grande correlato entre
pessoas que dizem ter sofrido uma intimidação e as que exercem uma intimidação.
Ou seja, o pensamento do tipo: “já que fizeram comigo, faço por vingança”
parece estar em uma parcela significativa dos casos.
Isto também nos lembra dos jogos
infantis, nos quais veremos que a criança repete justamente o que há de mais
desagradável para si. Esta curiosa repetição é a forma de dominar suas
vivências desagradáveis. Domínio este que lhe dá prazer.
Por fim, situação que muito instiga
pais e educadores é o fato das vítimas não pedirem socorro. Isto parece acontecer,
em parte, pelos mesmos mecanismos. Por se ver identificado com o intimidador,
que usufrui do prestígio de líder, a vítima teme perder seu lugar junto ao
líder e a ele se submete. Mas, creio que na primeira oportunidade de exercer
esta atividade - de intimidar - ele irá fazer, por vingança, mesmo que em outro
colega ou ambiente.
Está aí uma boa chave para a discussão
do tema, tanto entre pais e educadores, como em um grupo em que este processo
esteja ocorrendo.
*Baseado nos comentários realizados na banca de TCA de Bruna Carvalho
Simões no Colégio Oswald de Andrade (2013).
[1] Leia mais sobre os sentimentos de
inveja no texto publicado sobre o tema neste blog.