sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

FELIZES PARA SEMPRE


No mundo dos contos de fadas, nas estórias destinadas à infância, observamos que temas relacionados tanto à violência como ao erotismo são frequêntes, porém atenuados, suavizados e, por fim, compensados com um final feliz. Pode-se dizer que esta preferência pelas versões modificadas contendo estas características é o que prevalece hoje em dia como oferta literária e de entretenimento para nossos pequenos.
Isto pode ser analisado tanto pela ótica dos pais, da criança como da sociedade.
As mudanças no conteúdo das estórias infantis em certa medida respondem a questões narcisistas parentais, pois os pais querem não só sinalizar, como tentam garantir os votos de um bom futuro para os filhos. Estes votos são legítimos e genuínos, possivelmente o melhor que lhes reservou a realidade.
Devemos, apenas, ter cuidado para não sermos ingênuos em dois aspectos: ao tentar mostrar um lado ideal, onde qualquer conflito termine bem, que destino uma criança pode dar ao que realmente não vai bem. Como ela se sente sabendo que sua sorte não foi exatamente a prometida? Será que nos excessivos votos de um final feliz, também contém fantasias e temores “nada felizes” das vivências, dos fracassos e frustrações da realidade?
Neste sentido, o final feliz pode trazer embutido a negação que não podemos negligenciar: nem sempre a criança vive um mundo de sucessos e isto pode ser um motivo de grande angústia quando comparado às fabulas de finais felizes. Os pais e educadores devem ficar atentos a este aspecto para poder falar abertamente do conflito produzido.

Na medida em que a sociedade confere à criança um lugar próprio, é possível também conhecer suas especificidades e saber que seus recursos de elaboração são distintos dos adultos. Uma boa parte da  modificação dos tradicionais contos infantis se deve a isto.
Devemos nos perguntar, então, o que uma criança compreende do que lhe é falado, pois expor demais a mesma a conteúdos que ela não pode suportar pode ser traumático. Com frequência, a criança pega uma "carona" nas histórias contadas para elaborar as próprias questões, o que está difícil de compreender ou "digerir".
Saber dosar informações pode ser uma medida de proteção, pois muitas vezes uma criança pode viver uma informação como excessiva, negativa e pesada ou terrífica. Mas isto também não significa deixá-la em uma redoma sem expô-la a nada. Isto também seria uma falsa ideia do que é bom para a infância.
Se observarmos a brincadeira infantil veremos que ela repete justamente o que há de mais desagradável para si. Esta curiosa repetição é a forma que a criança tem de dominar suas vivências desagradáveis, quando este domínio é bem sucedido gera prazer. Por isto, os nossos pequenos gostam tanto de repetir brincadeiras e histórias.



Texto desenvolvido a partir do Trabalho de Aproveitamento de Curso, realizado por Marina Giovedi Arnoldi "Por que eles foram felizes para sempre?", Colegio Oswald de Andrade, São Paulo, 2011 do qual participei da banca examinadora.