É
comum nos deparamos mordidos com o
sentimento de inveja, ou nos sentimos injustiçados. Isto parece convocar o pior
de cada um de nós.
Como
entender ou lidar com isto?
Estes
sentimentos que geralmente identificamos como negativos estão ligados a vivências
das mais primitivas da nossa estrutura psíquica. Por mais que pareça justamente
o contrário, são base do sentimento social, denominados sentimentos gregários –
se constroem a partir do desejo compartilhado pelos membros de um grupo que
haja justiça, ou seja, um tratamento igual para todos.
Para
compreendermos como a mudança deste afeto acontece, vamos falar um pouco das
nossas primeiras relações, pois estes sentimentos sociais não são inatos, mas
construídos progressivamente ao longo da infância. Portanto, o sentimento
comunitário não é encontrado nas crianças. Este tem por origem um sentimento
primitivamente hostil, a inveja, que se transforma em um desfecho positivo, a
identificação.
A
identificação se constituirá a partir da inveja experimentada pelas crianças,
muito precocemente, ao iniciar sua convivência com outras crianças, semelhantes
a ela, e se verá na condição de disputar o amor e a atenção de uma pessoa amada.
A hostilidade experimentada em relação ao rival é extremamente ameaçadora, na
medida em que a criança reconhece que a
expressão de sua hostilidade pode significar o afastamento do ente querido,
objeto de seu amor, obtendo assim, resultado oposto à sua verdadeira intenção. O sentimento social ganha sua força ao reivindicar
toda atenção de um líder e temer a disputa dos rivais. Desta forma, rivais a
princípio acabam por se identificar devido ao fato de amarem o mesmo objeto
Mas
por que, então, sentimos a inveja como hostil e fulminante em nossas vísceras, uma
vez que tais sentimentos parecem desembocar justamente nos ideais sociais e
comunitários?
O ideal altruísta de
justiça tendenciosamente esconde algo
muito mais egoísta e individualista: seu verdadeiro objetivo é se certificar de
que o rival fique sem nada, exatamente como nos sentimos. A inveja não é
dirigida a um outro genérico, mas sim
a um outro específico, que tem coisas
das quais sentimos que não temos.
O que invejamos não está
ligado à nossa sobrevivência, nem é necessariamente útil. O objeto da inveja é
o que irá satisfazer o outro com o qual nos comparamos e nos identificamos.
Assim, o que causa inveja, não é a posse do objeto, mas a fruição de prazer que
o rival obtém com este objeto. É a imagem da satisfação do outro que nos
captura. O invejoso nada mais é aquele que almeja a mesma satisfação.
Esta compreensão, nos põem
diante de uma situação muito desconcertante! Realmente, dá pano para manga, muitas
conversas e temas que irei desenvolver em outras oportunidades.